BISPOS DA CEAST PEDEM RESPONSABILIZAÇÃO DAS MORTES DE CAFUNFO

04.03.2021
Por: Da Conceição Maria
Os Bispos da CEAST-Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, reunidos de 24 de Fevereiro á 1 de Março de 2021, no Santuário Mariano da Muxima, em Luanda, pediram a responsabilização dos assassinatos de 30 de Janeiro na Vila diamantífera de Cafunfo, Província da Lunda- Norte e a bem da harmonia e do convívio plural entre todos.
                                                 
                                  Na Assembleia foram aprovados vários documentos como:

                                          -MENSAGEM PASTORAL SOBRE O MOMENTO ACTUAL:

1. Vindos de várias partes da nossa terra e trazendo connosco as alegrias e as esperanças, bem como as
tristezas e angústias das pessoas a quem servimos (Gaudium et Spes, nº 1), como S. Paulo, mandatados
pelo Senhor Jesus, somos obrigados a refletir sobre o momento atual do nosso país, aplaudindo as luzes
que o tornam brilhante, mas também, como Raquel (Jer 31, 15), lamentando sobre as sombras que
escurecem as vidas dos nossos filhos, para, finalmente, propormos caminhos que juntos podemos trilhar,
depois de discernidas as causas das sombras.

2. Entre elas, assinalamos um contexto mundial muito adverso, contexto marcado por factores como os
extremismos religiosos e populismos políticos resultando em instabilidades com impactos em muitas
nações, permanência prolongada do preço baixo do petróleo – que é ainda o nosso maior produto de
exportação e fonte de divisas – e crise geral dos preços de bens e serviços causada principalmente por
especuladores financeiros. Mas destaque particular tem a pandemia da Covid-19, que há mais de um ano
mata centenas de milhares de pessoas, debilita quase irremediavelmente a saúde de milhões, arrasa as
empresas, lança para o desemprego grande parte da população trabalhadora do mundo e semeia o medo e
a incerteza nas crianças e nos jovens. Nenhum governo ficou sem ser enfraquecido e destituído das
possibilidades de cuidar do seu povo como desejava. Angola e o seu governo também sofrem estes
abalos. Sobre Angola, como pastores, queremos destacar alguns aspectos que marcam o momento actual.
3. Reconhecemos a abnegação com que muitos agentes sanitários cuidam dos doentes, arriscando as suas
vidas. Mas sentimos que a falta de meios de segurança afecta a muitos deles e que a carência de
profissionais, medicamentos e equipamentos adequados faz que não sejam devidamente atendidos
pacientes das patologias mais comuns no nosso país.
4. Constamos com alegria que, alcançada a paz em Angola, a esperança de vida da sua população vem
crescendo paulatinamente, ao mesmo tempo que, em praticamente todo o território nacional, cada um de
nós vem sentindo a sua integridade física cada vez mais assegurada. Não podemos, porém, esconder o
facto de que nos sentimos chocados com os casos de assassinatos, mediáticos e não mediáticos, como, por
exemplo, os de Cafunfo e os de mulheres às mãos de seus maridos e amantes, casos que nos
envergonham, justamente quando queremos deixar muito para trás a experiência traumática da nossa
guerra. Infelizmente, constatamos, com dor, que crimes organizados levados a cabo por grupos motivados
por propósitos maliciosos, excessos de agentes da ordem, roubos isolados para satisfazer necessidades
nem sempre indispensáveis e até paixões afectivas descontroladas, integram o leque de razões de tais
tipos de assassinatos. Ademais, as acusações de feitiçaria e a consequente exploração económica por parte
de supostos descobridores das causas profundas (adivinhos) que, muitas vezes apoiados por algumas
autoridades tradicionais e civis paralisadas pelo medo e pela crença de que tudo o que interrompe o curso
natural da vida e da saúde deve atribuir-se ao feitiço, enriquecem-se depauperando as famílias, torturando
os cidadãos e destruindo comunidades inteiras. Os autores morais e materiais, bem como aqueles que
deviam evitá-los por serem guardiãs da ordem pública, devem ser vivamente questionados e
responsabilizados. Por isso, pedimos a quem de direito que não deixe cair no esquecimento estes factos,
mas que eles sejam devidamente investigados e que, com total transparência, sejam determinadas as
responsabilidades. Ademais, partilhamos com os fiéis católicos e todas as pessoas de boa vontade, a
convicção de que, como angolanos, unidos e determinados, podemos instaurar entre nós uma ordem que
venha a tornar plenamente efectivos os nossos direitos e liberdades, ordem querida por Deus e, em última
análise, ansiada por cada coração humano. O nosso percurso histórico prova que somos um povo que é
capaz de mostrar ao mundo que ama a vida e pode servir de inspiração para outros que ainda se
confrontam com guerras entre irmãos.
5. As promessas de cada vez maior proximidade aos cidadãos, assim como os bens e serviços prestados pelo
Estado vão-se expandindo geograficamente. Contudo, persistem, e nalguns casos agudizam-se, as
assimetrias entre as populações peri-urbanas e as urbanas, as do campo e as das grandes cidades, as do
leste e as do litoral, assimetrias estas reflectidas também nos preços dos produtos para necessidades
básicas, na inacessibilidade à electricidade e à água canalizada, na indisponibilidade dos serviços de
saúde, educação, registo civil, segurança social e financeiros, asseguramento policial, na inacessibilidade
ao emprego na função pública, entre outros. Reconhecemos as melhorias, mas, para muitos angolanos,
ainda é um pesadelo tratar do bilhete de identidade, renovar a carta de condução, o livrete do veículo,
legalizar o seu terreno ou obter a licença de construção da sua casa. Os jovens, que são aqueles que mais
expressam frustrações com esta situação, bastas vezes falam do egocentrismo e da incapacidade dos
governantes de olhar para além do interesse pessoal, de família e de grupo, o que torna o próximo num
instrumento descartável quando não útil. Por isso, apelamos a todos os governantes e particulares a
trabalharmos decididamente para ultrapassar o escândalo destas assimetrias, que acabam por juntar-se ao
conjunto de motivos de instabilidade e revolta, inclusive nas nossas fronteiras terrestres. A falta de
estradas marginaliza várias regiões de Angola, com destaque para o Leste, e é fonte das graves
assimetrias que empatam o desenvolvimento do país. De facto, urge revertermos a lógica dos
investimentos e partirmos das periferias do país, o que resultará em grandes vantagens para todos nós.
6. Notamos que cada vez mais angolanos, adultos e jovens, vão tendo oportunidade de tomar controle das
suas vidas, afirmando-se a consciência da responsabilidade em relação aos estudos, à formação
profissional, ao emprego, à casa própria, à constituição de um património e à segurança económica
exigida pela vida. De facto, nos angolanos, cada vez mais vai crescendo a coragem para empreender e
diminuir a dependência pessoal em relação ao Estado e ao emprego criado por outros. Infelizmente,
porém, muitos angolanos vêem-se frustrados com a violação e o assalto aos poucos bens, como terrenos,
casas, dinheiros e meios de produção obtidos através de muitos sacrifícios e de privações impostas às suas
famílias já pobres. As forças da ordem, os serviços de fiscalização e instituições como as de defesa do
consumidor, ainda estão longe de garantir a real segurança dos bens das pessoas. Mas, também, por
frustrações acumuladas, medo, falta de hábito ou ignorância, muitos angolanos não activam aqueles
serviços do Estado. Julgamos que os agentes do Estado ligados àqueles serviços devem e podem melhorar
o seu desempenho. Ultrapassando o foco quase exclusivo no interesse pessoal e percebendo que a
segurança alheia garante a sua, estes agentes do Estado muito contribuirão para a paz social.
7. Como país, muito temos feito para superar a dependência e nos orientarmos em direcção à nossa
segurança alimentar. Contudo, por todo o país cresce o número de pessoas, sobretudo crianças, idosos e
mulheres, que mal consegue comer uma refeição por dia. Uns deambulam com seus corpos mal cobertos
por farrapos, indo ao ponto de disputar por lixeiras para colher delas dejectos com que enganar o
estômago e tapar o corpo. Outros, sobretudo nas zonas rurais atingidas pela seca, deslocam-se para
lugares onde esperam encontrar algum alimento e socorrem-se de coisas que só a fome apertada os obriga
a ingerir. Outrossim, o aumento dos preços e a diminuição das receitas contribuíram para um notável
aumento da prostituição em diversas zonas do país. Como já tínhamos afirmado anteriormente, se a
pandemia da Covid-19 deve ser aqui considerada, de facto, ela só destapou os erros de governação e a
deficiente ousadia de todos nós em exigir destes a gestão imaculada do dinheiro e de outros recursos de
todos nós. De facto, os dados publicamente acessíveis provam, por exemplo, que, em todas as
comunidades, podíamos ter tido muito mais e melhores professores, médicos, gestores, investigadores,
inventores e todos os outros profissionais de que precisamos como de pão para a boca. Paulatinamente
vamos acordando para a consciência de que somos abençoados por solos, águas e recursos necessários
para a nossa segurança alimentar, ao mesmo tempo que vamos afirmando a nossa vontade de produzir
para nós e para exportar. Por outro lado, as restrições nas deslocações trans-fronteiriças, impostas pela
Pandemia da Covid-19, resultaram no aumento da produção e da circulação de muitos alimentos locais.
Assim, temos razões para não retroceder, mas para nos firmarmos na nossa auto-suficiência alimentar.
8. Essencial como esta última é a segurança social, para a qual, felizmente, cresce o número de angolanos
que vai descontando. Mas a grande maioria ainda não tem garantias de segurança no desemprego, na
maternidade, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice e noutros casos de perda dos meios de
subsistência por circunstâncias alheias à sua vontade. Muitos empregadores continuam a não respeitar a
obrigação de inscrição dos seus trabalhadores no sistema de segurança social. Muita gente tem empregos
precários ou sobrevive na economia informal, que vai desde o trabalho no campo à venda ambulante e aos
negócios esporádicos de prestação de serviços. Mais greve ainda é o facto de os serviços da segurança
social não estarem fisicamente presentes na vastíssima maioria do território nacional. Já se torna
intolerável o facto de a maioria dos angolanos continuar excluída da segurança social, incluindo
colaboradores da própria Igreja. Não vemos porquê não tornar todo o angolano em idade laboral
obrigatoriamente inscrito e contribuinte no sistema de segurança social, mesmo que tal exija a atribuição
de subsídios e outras ajudas. Aliás, o facto de a maior para da nossa população ser jovem torna-a num
recurso invejável para qualquer sistema de segurança social moderno e sério.
9. Por outro lado, felizmente, cresce o número de empregadores e trabalhadores que vai observando os seus
direitos e deveres respectivos. Mas, sobretudo no sector privado da economia, do camponês e pescador,
passando pelas já poucas indústrias e transportes, às empresas culturais, regista-se falência ou quase
falência, com o consequente desemprego ou sub-emprego de muitos pais e jovens, cujos contratos foram
rescindidos ou suspensos, retirando ou diminuindo-lhes os salários para se alimentarem a eles e às suas
famílias. Outrossim, muitos trabalhadores estão sujeitos a condições sub-humanas às quais apenas se
entregam porque derrotados pela falta de alternativas. Ora, se a crise provocada pela Covid-19 agravou a
situação do desemprego e dos direitos dos trabalhadores, também mostrou que, no passado, desprezámos
muitas oportunidades de ter uma economia mais forte e que menos viesse a sentir os efeitos dos abalos da
pandemia. Como o paralítico abençoado e encorajado por Jesus, também somos convidados a pegar nos
recursos e nos meios de produção disponíveis e com o nosso saber criar as oportunidades de empregos
seguros e condizentes com a dignidade humana (Mc 2, 3-11).
10. Ainda convivemos com muitas manifestações da vida selvagem e muito de natural sobra do nosso meio
ambiente. Contudo, já não temos quanto a natureza nos tinha brindado, por exemplo, de flora e fauna. A
aplicação descontrolada de muitas das nossas práticas tradicionais, aliada a práticas gananciosas
motivadas por interesses internos e externos resultaram na destruição e ameaça de extinção de muitas
plantas e animais, cuja recuperação é incerta. Sobretudo, lamentamos que esteja prestes a começar a
agressão que muitos de nós temíamos que seguiria às chamadas expedições científicas em santuários
naturais de que a Bacia do Okavango é apenas um representante. Com o Papa Francisco e todos os que se
dedicam à defesa do meio ambiente, encorajamos todos os angolanos de boa vontade a resistirem contra a
continuação da destruição da nossa natureza, sob pena de comprometermos gravemente a vida dos nossos
descendentes (Laudato Si, nº 8).
11. Finalmente, constatamos com alegria a maior tolerância das formas de participação na vida pública,
através do exercício dos direitos de expressão, de informação, de associação, reunião, manifestação e do
direito geral a votar e a ser eleito. Entretanto, para que a Comunicação Social Pública seja um espaço de
informação isenta e objectiva, deve ser despartidarizada. Não se percebe como, até hoje, não é permitido
à Rádio Ecclesia expandir-se por todo o país através de repetidoras, o que contradiz as promessas
eleitorais do partido governante. De facto, entre nós, convivem ainda, de um lado, o discurso anunciador
de mudanças positivas pelo Presidente da República e algumas autoridades do Estado e, do outro, a
prática inadequada e agressiva da vasta maioria dos agentes do mesmo Estado, prática correspondida com
atitudes impacientes e também agressivas de muitas pessoas e grupos de cidadãos.
As manifestações de
rua e o clima geral de impaciência e tensão, protagonizados por partidos políticos e grupos civis, não
serão reflexos deste convívio de contradições? As plataformas previstas para o diálogo e a concertação
entre actores estatais e não estatais ainda não são espaços de liberdade, de imparcialidade e de verdade,
nem as autarquias foram implementadas. Perguntamo-nos se estas contradições não terão como causa a
nossa dificuldade de evoluir da lógica da relação entre militar e civil desarmado, entre líderes autoproclamados de messias e massas populares e entre auto-proclamados predestinados ao bem-estar e
massas trabalhadoras.
Ora, além do profundo sentimento de irmandade que nos une, sobretudo quando
culturalmente agredidos por estrangeiros mal-intencionados, em vários momentos da nossa história,
fomos capazes de deixar para trás os nossos conflitos e abraçarmo-nos, por exemplo, criando as FAA
(Forças Armadas Angolanas), formando o GURN (Governo de Unidade e Reconciliação Nacional),
traçando e aprovando leis e planos consensuais, bem como estabelecendo muitas plataformas de convívio
e colaboração salutar em todos os sectores da vida social. Isto prova que somos capazes de gerir as nossas
diferenças com serenidade, que podemos e devemos dialogar, que podemos e devemos manter a devida
proporção entre os nossos interesses particulares e os interesses comuns da Nação.
A nossa história e a nossa fé provam que somos capazes de superar as nossas diferenças e, unidos,
construir pontes, dialogando e erguendo Angola como casa da fraternidade. Que Maria, a Senhora da
Muxima e mãe de Jesus, no qual todos somos irmãos, nos acompanhe nesta caminhada.
                                Santuário da Muxima, Diocese de Viana, 01 de Março 2021
Os Bispos da CEAS
                                                       COMUNICADO DE IMPRENSA
De 24 de Fevereiro a 1 de Março de 2021, no Santuário de Nossa Senhora da Muxima, Diocese de
Viana, teve lugar a I Assembleia Plenária anual da CEAST que contou com a presença de todos os
Bispos da CEAST, destacando-se as presenças de D. Joaquim Nhanganga Tyombe, bispo eleito do Uige
e do Padre Adão António, administrador diocesano de Malange. Destacamos, igualmente, a presença de
D. Giovanni Gaspari, Núncio Apostólico em Angola e São Tomé, que dirigiu palavras de saudação e de
apreço a todos os Bispos reunidos em Plenária. No discurso de abertura, D. Filomeno do Nascimento
Vieira Dias, presidente da CEAST destacou as seguintes questões de pertinente actualidade: a)
solidariedade com os doentes, sobretudo da Covid-19, e uma palavra de apreço para os agentes
sanitários que enfrentam com coragem este mal; b) Igreja serva dos pobres, que deve comprometer-se
com eles e ajudar na procura de soluções para se combater a fome e a pobreza; c) convivência social: há
necessidade de maior diálogo e tolerância para que não se desperdicem as conquistas já alcançadas no
caminho da paz e da reconciliação nacional; d) Urgência da cultura do encontro que permite que nos
abracemos como irmãos.
                                                                    Deliberações:
Na sequência dos trabalhos, os Bispos aprovaram:
1. A Mensagem Pastoral sobre o momento actual ‘Angola, casa de paz, liberdade e fraternidade’;
2. As propostas para a criação de 3 dioceses, sendo 2 a desmembrar da Arquidiocese do Lubango e
1 a desmembrar da Diocese de Benguela;
3. A criação do Instituto Missionário ad gentes Mamã Muxima, da CEAST, e que formará
sacerdotes para as Dioceses de Angola e do Mundo;
4. A realização do II Simpósio Internacional de Pastoral Bíblica a realizar-se em Luanda, de 17 a
19 de Setembro de 2021;
5. A Nota Pastoral sobre o uso indevido, por não católicos, de terminologia eclesiástica católica,
símbolos, vestes e materiais litúrgicos;
6. O Regulamento Interno dos Escuteiros Católicos de Angola ad experimentum por 3 anos;
7. A vinda e a peregrinação nas Dioceses de Angola e São Tomé dos ícones da Jornada Mundial da
Juventude, de Junho a Agosto de 2021 ;
                                                   Conclusões e Recomendações:
1. Uma maior disponibilidade das Congregações Religiosas para a missão pastoral nas Dioceses
mais carenciadas de missionários;
2. A necessidade da retomada da catequese para as crianças em todas as Dioceses, observando as
regras de biossegurança;
3. Desejamos ver devidamente reconhecido, nas medidas do estado de calamidade decorrentes da
Covid-19, o direito dos católicos de celebrar diariamente a Santa Eucaristia, tal como são
permitidas outras atividades de carácter social.
4. Na análise da situação do País e da Leitura dos Relatórios das Diocese, os Bispos constataram:
a. Continua a agudizar-se a situação social do País, com níveis elevados de pobreza, fome,
desemprego, perda acentuada do poder de compra e encerramento de empresas;
b. A falta de chuva no Centro e Sul do País volta a levantar o espectro da fome, pelo que
apelamos as autoridades a criarem um plano de contigência;
c. os Bispos manifestaram-se preocupados com a degradação do discurso político queameaça desmoronar o edifício da unidade nacional, reconciliação, justiça e paz, em
construção, com tanto sacrifício, pelo que apelam à contenção, ao respeito mútuo, ao
diálogo construtivo e ao renovado compromisso com a Nação e com a ética;
d. Os Bispos da CEAST apoiam e solidarizam-se com os Bispos da Província Eclesiástica
de Saurimo que em comunicado deploraram e condenaram os actos de violência que
resultaram em mortes e violações clamorosas e incompreensíveis dos direitos humanos
na vila de Cafunfo. Outrossim, apelam para que, a bem da harmonia e do convívio plural
entre todos, seja apurada a verdade material dos factos e responsabilizados os que agiram
contra a lei, de um e do outro lado.
e. Nalgumas zonas do País, sobretudo nas fronteiras, adivinhos e determinadas seitas
religiosas vindas de países limítrofes usam a táctica de acusar cidadãos de feiticeiros,
inclusive catequistas, por forma a serem desacreditados e expulsos das comunidades,
deixando-as sem possibilidade de educação cristã, a maior parte das vezes destruindo
famílias e o próprio tecido social das comunidades, perante o olhar impávido das
autoridades civis;
f.«.Com grande e grave preocupação assiste-se a uma corrida desenfreada pela exploração de
hidro-carbonetos em áreas sensíveis como parques e reservas naturais, colocando em
risco a biodiversidade e a sobrevivência das populações;
g. Em tempo de Quaresma, os Bispos convidam todos os cidadãos ao arrependimento pelos
pecados pessoais e sociais cometidos e à conversão autêntica ao Evangelho, tendo em
vista o bem comum e a felicidade de todos.
                                              Audiências e Celebrações:
Ao longo dos trabalhos, os Bispos:
1. Receberam em audiência: a) a Senhora Maria Melânia Vandila, Adminstradora Adjunta da
Quissama; b) a Comissão Bíblica Nacional representada pelo Padre Bonifácio Tchimboto, Irmã
Elizabete Corazza e o Senhor Manuel Pacheco; c) uma delegação da Caritas Nacional integrada
pelos Senhores Eusébio Amarante (director cessante) e José Quintas (novo diretor); d) a
Comissão de Justiça e Paz da CEAST representada pelo Padre Celestino Epalanga, a Dra.
Eufrazina Paiva e o Senhor Moura Jorge; e) o Padre Isaías Cassinda, Secretário Geral da
CSMIRA (Conferência dos Superiores Maiores dos Institutos Religiosos de Angola); f) a
Senhora Andreia Baltazar, Coordenadora Nacional do Projecto PROFUTURO.
2. Participaram, no Domingo, 28/2, na Esplanada da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da
Muxima, na celebração da Missa Solene, presidida por sua Eminência Dom Eugénio Cardeal Dal
Corso, que celebrava das suas Bodas de Prata Episcopais.
                                             Santuário da Muxima, Diocese de Viana, 01 de Março 2021
                                                                       Os Bispos da CEAST

                                                                              NOTA PASTORAL

Sobre o uso indevido da terminologia eclesiástica católica,
símbolos, vestes e materiais litúrgicos.

1. “Enviada por Deus às nações para ser ‘o sacramento universal de salvação’, a Igreja, em virtude das
exigências intimas de sua própria catolicidade e obedecendo à ordem de seu fundador, esforça-se para
anunciar o Evangelho a todos os homens”.Ela é peregrina por sua íntima natureza e vocacionada a
caminhar com a humanidade inteira. Experimenta com o mundo a mesma sorte terrena; é como o
fermento e a alma da sociedade humana a ser renovada em Cristo e transformada na família de Deus.
Consciente da sua missão, ela tem desenvolvido, no curso dos tempos, uma linguagem própria,
constituída por uma simbologia, um ritual, uma maneira de se exprimir, um código de seus membros e
outros elementos que permitem a sua sobrevivência na história.

 

2. De tantas prioridades a que se propõe na sua nobre missão, a Igreja também se esforça
particularmente na busca de unidade entre os cristãos, sabendo que “as divisões solidificadas na história,
impedem a realização plena da sua catolicidade”; entre nós (Angola e S. Tomé), a abertura das duas
nações à democracia, fez nascer várias instituições, entre as quais, algumas de cariz religioso, que não
tendo sustentação bíblico-histórica e teológica, continuam a fazer recurso ao património material e
imaterial das Igrejas tradicionais. Olhando para esse fenómeno (assalto ao património linguístico, ritual,
indumentário e até mesmo jurídico), a CEAST apela a quem de direito4
, para a criação de um ambiente que garanta o respeito entre as instituições, porquanto o património material e imaterial de cada uma exige proteção por parte da autoridade competente, ao nível do estado.

3. Sentido dos rituais, códigos linguísticos, simbologia e vestimenta na igreja católica:
Em todas as instituições humanas a linguagem simbólica tem uma finalidade social, a harmonia entre os
iniciados ao grupo. No caso da Igreja, nos primeiros séculos, a simbologia celebrativa do mistério
cristão não exigia vestes diferentes das da vida comum: não atribuía aos graus hierárquicos ou às
diversas funções insígnias distintas. Era unicamente o lugar, o sítio que ocupavam na assembleia e,
certamente, o papel que desempenhavam na celebração, o que distinguia os membros da hierarquia dos
fiéis e os graus hierárquicos entre si.

4. Com o passar do tempo e estruturação da própria Igreja, sobretudo no tempo das codificações, a
linguagem ritual começou a buscar a sua fundamentação nas sagradas escrituras, encontrando assim na
linguagem bíblica o modo de exprimir o que se queria na época. Para destacar as funções ministeriais
em relação aos outros membros da comunidade, recorreu-se à expressão vestes sagradas, utilizada para
fazer referência aos paramentos litúrgicos usados durante a liturgia pelos ministros ordenados e
instituídos. Segundo alguns estudos litúrgicos, “as vestes são usadas na liturgia enquanto capazes de
serem um meio de comunicação com o sagrado, com o divino”. Portanto, pelo que se verifica, são assim
denominadas por fazerem parte do culto da sagrada liturgia da Igreja. Não poucas vezes, este caracter
sagrado também tem compreendido as chamadas vestes eclesiásticas, isto é, o hábito – que é a veste
prescrita pela regra e constituições das ordens, congregações e institutos religiosos e a veste clerical, que
é o traje usado pelos clérigos cujas ordens não possuem hábito próprio; é a batina e, em muitas dioceses,
a camisa com colarinho romano. Já as vestes sagradas ou paramentos litúrgicos são aquelas usadas
apenas nas celebrações da eucaristia e de outros sacramentos ou durante a realização dos sacramentos,
como são os casos da alva, da casula, da dalmática e do pluvial. Sobre a diversidade de vestes sagradas,
a Instrução Geral do Missal Romano (IGMR, 2002, p.45) esclarece que: “Na Igreja, nem todos os
membros desempenham as mesmas funções. Esta diversidade de funções na celebração da Eucaristia é
significada externamente pela diversidade das vestes sagradas as quais, por isso, são sinal distintivo da
função de cada ministro”, que oriundo do sacramento da Ordem pode se exprimir no episcopado, no
presbiterado e no diaconato, qual expressão do sacerdócio de Cristo.

5. Significado profundo das vestes litúrgicas
Na continuação das reformas previstas pelo Concílio Vaticano II, as prescrições em vigor relativas às
vestes e insígnias litúrgicas no rito romano, encontram-se principalmente no Caerimoniale episcoporum
e no Codex rubricarum de 1960 e, acessoriamente, no Pontifical Romano e no Ritual. Além de
salientarem o carácter festivo da celebração e serem expressão de que o culto cristão é exercido no
sacerdócio de Jesus Cristo, o vestuário litúrgico, com as suas formas amplas, atenua e apaga a
individualidade daquele que o endossa, para manifestar, ao contrário, a dignidade da função exercida na
pessoa de Cristo: “ é natural que o homem que oficia no culto da Igreja esteja vestido duma maneira que
corresponda à função que lhe está designada e que exprima visivelmente o que ele faz; … não age como
pessoa privada, mas como ministro da Igreja”. Sem dúvida, a fé católica ensina-nos a discernir no bispo,
no padre, no diácono, uma invisível e inalienável semelhança com Cristo, mas é normal que no
exercício do seu ministério – no sentido mais forte deste termo: in persona Christi – eles revistam um
traje que lembra aos outros e a eles mesmos o que são e o que deveria parecer neles. No branco que se
irradia desde a túnica até à alva, quer-se exprimir a ruptura com a precipitação e com as tarefas
utilitárias e, ao mesmo tempo, a união ao vestuário real e sacerdotal da liturgia celeste, do Senhor da
glória, dos anjos e dos eleitos.

6. Língua e linguagem na Igreja
O cristianismo não é uma religião de fórmulas, mas sim uma religião que acredita nas realidades que tais
fórmulas expressam e que a fé permite “tocar”. O acto de fé do crente não para no enunciado, mas chega
até a realidade (enunciada)5. A Igreja que é “a coluna e o sustentáculo da verdade” (1 Tm 3,15), guardafielmente a fé uma vez por todas confiada aos seus filhos. É ela que conserva a memória das Palavras de
Cristo, é ela que transmite de geração em geração a confissão de fé dos apóstolos. Como uma mãe que
ensina seus filhos a falar e, com isto, a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, nos ensina a
linguagem da fé para introduzir-nos na compreensão e na vida da fé. Por isso mesmo, no decurso dos
tempos desenvolveu um código linguístico próprio, representado pelas formas de tratamento dos seus
ministros, das suas estruturas de culto e outras, que, muitas vezes extraídas das sagradas escrituras,
ganharam forma no contexto eclesial, transformando-as assim em “vocabulário” eclesiástico. São
exemplos disso expressões como Sua Santidade, o Papa, Sua Eminência, cardeal, Sua Excelência,
Arcebispos, Bispos e outras expressões que correspondem a funções em frente das comunidades como
Párocos, superiores de missão, abades, ou mesmo lugares, como paróquias, santuários e outras que,
infelizmente, vemo-los usurpados por outros grupos religiosos.

7. Ainda unidas a essas preocupações encontram-se outras palavras ligadas ao mundo das alfaias e
outros utensílios litúrgicos, como paramentos e expressões cultuais católicos que proliferam em
ambientes não católicos.

8. Conclusões
Por tudo isto, a Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé, exorta os Sacerdotes, Religiosos e
Religiosas e o povo santo de Deus à vigilância e à educação das comunidades para o conhecimento da
simbologia católica, sua linguagem e rituais, a fim de se evitarem, deste modo, todas as tentativas de
sincretismo e confusões e a aterem-se ao profundo sentido das realidades transcendentais que elas
representam. Outrossim, se exortam as autoridades legitimamente investidas de poder de criarem a “paz
social”, e, na medida do possível, buscarem mecanismos para que os grupos religiosos autorizados a
exercitarem o direito à manifestação pública da sua fé, e não só, fazerem-no recorrendo a uma
linguagem própria, evitando assim o esvaziamento do património adquirido à custa de séculos de
caminhada de fé das comunidades mais antigas em Angola e S. Tomé.

Santuário da Muxima, Diocese de Viana, 01 de Março 2021 .                                                                                                                                                         Os Bispos da CEAST

Recentes

NFV FORA D` HORAS 18-09-2024

Noticiário NFV, edição de quarta-feira 18 de setembro de 2024, com os seguintes tópicos: 1 - Governador do Namibe diz que legado de Agostinho Neto é honrado com políticas do Executivo que visam melhoria da vida das pessoas; 2 -  Namibe: Procurador Tadeu Vasconcelos...

NFV FORA D` HORAS 17-09-2024

Noticiário NFV, edição de terça-feira dia 17 de Setembro de 2024 com os seguintes tópicos: 1 - Ordem dos  Advogados de Angola no Namibe denuncia existência de reclusos com penas vencidas nas cadeias locais; 2 - Presidente das Cooperativas de pesca artesanal apela...

pergunta, sugere, denuncia, contribui

Jornalismo com tempo e profundidade faz-se com a tua participação e apoio.

Share This