“O meu povo vai gritar”diz o Rei do Bailundo EKuiko V no Mwangolé Fala Verdade

06.03.2021

Rei do Bailundo Ekuikui V, Armindo Francisco Calupeteca continua afirmar que a sua condenação esta na base de uma perseguição que o governo do Huambo tem levado a cabo, devido os 18 milhões de dólares cedido pelo antigo Presidente da República José Eduardo dos Santos para a requalificação da Ombala Mbalundo no de 2016.

 

Por: Da Conceição Maria

Afirmação do Soberano Rei ” Ekuikui V “de um grupo étnico Bantu (Ovimbundu), o mais populoso do actual território que é hoje Angola, cuja sede (Ombala), está situada no Bailundo, Província do Huambo, Planalto Central, região com grande história nos dois períodos, antes da independência e após independência. Bailundo significa, Ombala Yalundu (Capital situada entre as Colinas) ou (Capital das Altas Colinas)”.

Face as afirmações do Rei do Bailundo o espaço Mwangolé Fala Verdade, debateu o tema ” meu povo vai gritar” com o convidado especial o historiador Vitorino Silepo que durante o debate fez o historial da origem e importância da soberania dos Ovimbundos na íntegra.

 

Atualmente os Ovimbundo do Planalto Central estão subdivididos em 15 grupos, os Vambui; 2- Vapinda; 3-Vassele; 4-Vassanji; 5-Vambalundu (Centro desse conjunto étnico);6-Vandombe;7-Vaciyaka;8-Vawambu;9-Vavie;10-Vahanya;11-Vakakonda;12-Vassambu;13-Vandulu;14-Vanganda; 15-Vangalangi”.

Os Ovimbundu encontram-se espalhados, nos dias que correm, em todo espaço territorial de Angola, talvez sua presença seja muito limitada apenas em Cabinda pela descontinuidade territorial.

Os Ovimbundu sendo parte dos povos Bantu, importa fazer uma resenha global do ponto de vista histórico-Cultural dos Bantu:

Segundo o Padre Raúl Ruiz de Asúa Altuna na sua obra “A Cultura tradicional Bantu” dizia, “desde alguns anos a esta parte, estuda-se com interesse em todo o mundo a extraordinária migração empreendida pelos povos Bantu há 3000 ou 4000 anos”.

Partiram segundo indícios mais prováveis, do Noroeste da Selva equatorial, nos Camarões e Nigéria, e tomaram duas rotas principal para o Sul, uma ocidental, depois de atravessar a Selva equatorial, outra para Este, seguindo a orla desta Selva.

Os povos Bantu, que engloba cento e cinquenta milhões de Pessoas, aparecem com características étnicas e culturais comuns e formam um dos grupos humanos mais importantes da África. Estão espalhados desde a Orla Sudanesa até ao Cabo e desde o Atlântico ao Indico.

Portanto, dizer que essa cultura foi exaltada e dada a conhecer ao mundo pela “Negritude”.

No interior desta unidade destaca-se a identidade cultural básica dos povos Bantu. O Mundo Bantu criou uma estrutura cultural sólida que está subjacente a todos os sectores da vida e origina, fundamenta e motiva as suas manifestações existenciais.

Os povos bantu aparecem com diferenças secundárias particulares, originadas pelo meio ambiente e pelas variadas circunstancias que cada grupo suportou e enfrentou ou a que teve de se adaptar.
Referindo-nos à cultura tradicional:

Importa referir que durante milhares de anos, esses povos foram dando forma a sociedade. Criou um conjunto de ideias, atributos, hábitos, crenças e ritos, significados, símbolos, valores, concepções, estéticas, organização social, costumes, que forma o ambiente sobreposto ao puramente natural e transmitem um modo de vida organizado, passado às gerações sucessivas sem descontinuidades.

A cultura tradicional é uma herança recebida e transmitida pelos indivíduos e pela sociedade.
No Gabão, em Libreville, criou-se um Centro Internacional das Civilizações Bantu (CI CIBA), que se propõe segundo Bongo, “Contribuir para uma grande obra”, dizia, “(Enquanto que essa fidelidade a essência da nossa personalidade conservar a sua força milenaria, os nossos povos conservarão dentro de si, as certezas estáveis, as permanências morais)”. Fim de citação. Neste quadro, o choque de culturas não pode deixar o africano desenraizado.

Há princípios, valores, reflexões e estruturas que a África negra não pode perder porque constituem a sua especificidade-Identidade cultural, manancial da sua vivencia, a sua riqueza humana e moral.

O passado colectivo, as raízes de um povo, constituem a herança e o património sagrado que cada individuo e cada comunidade recebe dos antepassados para o seu alimento, a razão profunda da sua existência.

No caso concreto angolano: Hoje vivemos e assistimos um confronto de culturas e valores onde constatamos, infelizmente, a cultura e valores europeus a sobreporem-se a cultura e valores africanos.

Entretanto, até à data da Independência de Angola nem todos os povos tinham um século de dominação colonial portuguesa, sobretudo, os povos do interior e Leste de Angola. Esses povos continuam a pensar e a viver como africanos e sentem grandes choques. Daí, a necessidade de se reflectir seriamente sobre o confronto entre o Direito Positivo e o Direito Costumeiro ou Consuetudinário no sentido de se evitar o desacerbar de conflitos sociais em plena era da Independência Nacional.

Olhando para o caso do Bailundo e do Rei Ekuikui V, é precisamente falar de um Soberano Rei que encarna os Ovimbundu, posicionado na sua Ombala, na sua terra e na historia dos seus antepassados, exerce o seu poder à luz do Art 224º da CRA que diz: “(as autoridades tradicionais são entidades que personificam e exercem o poder no seio da respetiva organização Politico-Comunitária tradicional de acordo com os valores e normas constitucionais e no respeito pela constituição e pela Lei)” fim de citação.

Os Soberanos Reis devem ser respeitados por razões históricas, constitucionais e pela Lei. É uma das formas de respeitar os povos e suas culturais e tradições, por via disso, é promover a harmonia e a solidariedade nacional na diversidade.
Não foi fácil preservar esse figurino no Bailundo e noutros espaços étnico-linguísticos de Angola. Foi preciso muita luta e muita resistência. Por isso nas ultimas décadas do sistema colonial já se havia conseguido algum pequeno respeito.
Dr. Agostinho Neto dizia: “Às nossas culturas e tradições havemos de voltar; às nossas mulembas havemos de voltar”, então o que é uma mulemba em África?

Dr. Jonas Savimbi, no seu pensamento sobre a angolanidade e a unidade nacional, definiu que: “Angola é um conjunto de etnias, povos e nações, nela habitam conjuntos e subconjuntos de interesses legítimos e que devem ser reconhecidos e acomodados num interesse comum, que é nacional. A unidade nacional é, por conseguinte, esta tenda que alberga todas as vontades e sensibilidades nacionais transformando-as numa força impulsionadora de um ideal nacional que prioriza o angolano, e Angola acima de tudo”. Fim de citação.

Portanto, o Estado angolano que é um produto recente de um conjunto de esforços e sacrifícios, que consentiram ao longos dos séculos pelos nossos maiores, pelos nossos avoengos Ginga, Ekuikui II, Mutu-ya-Kevela, Muachiyava, Ndunduma, Mandume e outros, que legaram coragem e bravura aos nacionalistas que, organizados em Movimentos de Libertação, lutaram e proclamaram a Independência Nacional para este Estado novo, em 1975, deve (este Estado), respeitar os elementos e valores que estiveram na base para os povos lutarem para se ter uma Angola que que se pretende sólida e digna, onde as varias culturas se enriqueçam mutuamente e os Soberanos Reis todos respeitados e legitimados

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