Há 3 de Abril de 1976.
Há exactos 45 anos. Parece que foi ontem.
Nito Alves, o «enfant terrible» do MPLA e ministro do Interior, faz na Rádio Nacional um discurso histórico, anunciando a decisão de o Bureau Político prender todos os elementos da ala «Revolta Activa» do MPLA.
Cerca de 20 militantes são então presos pela DISA até 1980. Ao mesmo tempo anuncia eleições «autárquicas» em Luanda (que nunca se realizaram) para a eleição dos Comissões Populares de Bairro (CPB que ele controlava) e especifica que só os militantes do MPLA têm direito a voto e só podem ser eleitos militantes do MPLA. Não me falaram deste discurso, eu tive o privilégio de o ouvir porque o meu jovem camarada »Acho Justo», das FAPLA, que me guardava no túmulo subterrâneo em que me enterraram, levou o rádio, clandestinamente, para eu ouvir.
Dois meses antes, a 5 de Fevereiro, Nito Alves e a sua ala tinham feito aprovar pelo «dormente» BP (como ele chamava) a Lei do Poder Popular, cujo artigo 1º dizia: »Os órgãos de poder popular são aqueles através dos quais as massas populares, sob a orientação e controle da sua vanguarda revolucionária, o MPLA, exercem o poder político”. Foi há 45 anos, eu tinha sido posto fora do caminho de Nito Alves há 5 meses, ele tinha o caminho livre para o controlo das «autarquias» de Luanda.