A solução mesmo é dignificar e profissionalizar o trabalho de limpeza
A nota do dia hoje para mim, foi o facto de terem voltado a aparecer em algumas artérias de cidade de Luanda, homens e mulheres trajados de verde, tentando com os meios à sua disposição, dar um ar um pouco mais urbano e digno à nossa cidade capital.
Tentaram-se as mega campanhas, tipo “Sábados vermelhos” através dos chamados “cidadãos honestos”. Só que por mais honestos que sejam, os cidadãos têm as suas próprias agendas que já não se compadecem assim tanto com outras tarefas e como se não bastasse, eles todos pagam já uma taxa ao Estado para a recolha do lixo que cada um produz. Afinal quando pagamos a energia à ENDE está inclusa uma taxa para cobrir os encargos com o trabalho de recolha do lixo por empresas para isso vocacionadas.
Depois foi a vez dos manos das Forças de Defesa e Segurança. Durante alguns dias foram apenas diminuindo os depósitos mais volumosos e que por isso chamavam a atenção do cidadão devido também à grande quantidade de moscas, outros vermes e um cheiro nauseabundo que produziam.
Aí a maka foi então com as mamãs que se “foram aos arames” por acharem que suas Excelências os seus esposos estavam excessivamente expostos fazendo um trabalho que não correspondia ao seu status.
Ouvi uma das esposas a dizer:
“Eu não permito ao meu marido fazer esse tipo de trabalho (limpeza) em casa. Ele vai para o trabalho e me vêm dizer que viram o meu marido fardado, de vassoura na mão a varrer as ruas da cidade? Que brincadeira é essa? Não foi para isso que ele foi treinado”.
A solução mesmo é dignificar e profissionalizar o trabalho de limpeza, recolha e tratamento dos resíduos sólidos que pelo seu modo de vida as cidades produzem todos os dias, calculados em 1,2 a 1,5kg por pessoa por dia em sociedades de grande consumo.
Para o nosso caso até podemos calcular que cada luandense produza 0,5kg de lixo por dia.
Se nos apegarmos aos números do senso de 2014, Luanda pode estar a produzir hoje não menos do que 4 a 5.000 toneladas de resíduos sólidos de toda a espécie todos os dias.
Até à década 90, o trabalho de limpeza e recolha de lixo em Paris, por exemplo, era o trabalho para pessoas “não qualificadas”, próprio para os expatriados, principalmente os da Africa Ocidental que naquela altura andavam com uma vassoura e saco para recolher o lixo. Já nos anos 2000, o trabalho de Éboueur/coletor de lixo, passou a ser profissionalizado, modernizado, dignificado, valorizado e já inclui trabalhadores de origem europeia.
É importante dizer que esse trabalho é da responsabilidade exclusiva das Câmaras Municipais. Implementemos nós também as nossas Autarquias, profissionalizemos e valorizemos o trabalho da recolha e tratamento do lixo.
Teremos assim as nossas cidades sempre limpas, acrescido do facto de que a reciclagem do lixo é um processo que pode dar origem a muitos postos de trabalho, novos produtos e matéria-prima para a indústria.