O Almoço da Discórdia do Palácio da Cidade Alta

03.04.2021
Por:Carlos Kandanda
Muito antes de almoço (02/04/2021) acontecer no Palácio Presidencial da Cidade Alta, em Luanda, a “discórdia” já estava acesa nas redes sociais e nos órgãos da comunicação social pública e privada sobre o significado do almoço, a sua composição e o espírito da iniciativa de promover o Acto.
Quanto ao significado, sabe-se que este acto estava enquadrado nas comemorações do Dia da Paz (4 de Abril) e da Reconciliação Nacional. A composição dos convidados foi selectiva, tendo-se escolhidas algumas personagens históricas, sem haver um critério transparente e credível. O espírito do almoço, sem dúvida nenhuma, está inserido no «simbolismo político», com o objectivo de trazer a grande família angolana em volta da mesa para conviver, trocar impressões, estreitar as relações humanas, e inspirar e reforçar o espírito da paz e da reconciliação nacional no seio dos angolanos, e sobretudo entre os beligerantes da Guerra Civil atroz e prolongada que dilacerou todas as famílias angolanas – sem excepção.
Concretamente, este almoço foi um «Acto de Estado», feito no Palácio Presidencial, na Sede do Poder Executivo, na Residência Oficial do Chefe de Estado e do Presidente da República. Deve-se notar que este Almoço não tinha o cunho pessoal ou privado. Os convidados escolhidos cada um deles esteve lá na qualidade de militante dos três protagonistas do nacionalismo angolano, isto é, FNLA, MPLA e UNITA. Portanto, a configuração do almoço deve infalivelmente enquadrar-se no Acto de Estado, seguido o Protocolo de Estado, e obedecer estritamente às regras da ética, os valores morais, a tradição e o costume de uma Nação. Os Actos de Estado não são feitos por vontade pessoal, mas sim, pelo Dever do Estado.
Na verdade, a Guerra fratricida foi feita por pessoas, mas os seus “Protagonistas” foram os Partidos Políticos, acima referidos, que encarnaram a responsabilidade da guerra, e que também assumiram a responsabilidade de fazer a paz e conduzir o processo da reconciliação nacional. Ou seja, a paz foi a encarnação da vontade política dos protagonistas de por cobro à Guerra, irmanar-se, esquecer o passado, olhar para o futuro com o espirito profundo da paz, da reconciliação nacional, do amor ao próximo e da esperança.
Portanto, ignorar o papel preponderante dos “protagonistas da guerra e da paz” parece-me um pouco esquisito e irrealista. Porque, os actuais representantes legais e morais dos três Partidos Nacionalistas são: João Manuel Gonçalves Lourenço (MPLA); Lucas Benghy Ngonda (FNLA); e Adalberto da Costa Júnior (UNITA). Seja queiramos ou não é nesses três líderes partidários nos quais estão investidos os poderes legais e legítimos de representar os seus partidos, assumir a responsabilidade de preservar a paz e inspirar na sociedade o espírito da reconciliação nacional.
Para este efeito, é imperativo que haja a abertura, o respeito mútuo e o espírito patriótico de aproximar-se entre si, não obstante as diferenças políticas existentes entre as partes. As divergências pessoais, de índole política, não podem suplantar a vontade do Estado, o bem-comum e a unidade nacional. Ao abrigo do nº 4 do Artigo 108.º da Constituição da República de Angola, consagra o seguinte:
“O Presidente da República promove e assegura a unidade nacional, a independência e a integridade territorial do País e representa a Nação no plano interno e externo.” Fim da citação.
Neste âmbito, está claro de que, o Presidente da República tem o dever de unir os angolanos independentemente das suas orientações políticas ou do carácter da pessoa. Ele não pode e nem deve apoiar-se no revanchismo, exclusivismo ou sectarismo contra os seus concidadãos. O Presidente da República é a pessoa de bem, o pai da Nação e o pastor, que deve cuidar, unir e acarinhar o seu rebanho. Repare que, quem representa o Estado é o Presidente da República, e quem representa um partido político é o Presidente do Partido. Isso é indiscutível e inquestionável. Por isso, o gesto de excluir o Presidente da UNITA no almoço de confraternização pela paz e pela reconciliação nacional não caiu bem.
Penso que, as Entidades da UNITA que mereceram o convite formal do Presidente Angolano, João Manuel Gonçalves Lourenço, e abdicaram-se de estarem presentes no almoço, a meu ver foram imbuídos do espírito de salvaguardar a coesão e a dignidade do Partido, em defesa da unidade nacional, da reconciliação de todos os angolanos sem exclusão de índole política, étnica, racial, geográfica, religiosa ou de género.
Enfim, com este incidente de mal gosto o Presidente da República daqui para diante terá muita cautela em fazer as coisas, sobretudo quando se tratar de assuntos de Estado. Pois que, a sociedade angolana cresceu muito e a manipulação da opinião pública está ser bastante difícil, as vezes tornando-se em bumerangue quando a intenção for mal concebida.
Luanda, 3 de Abril de 2021

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