COMUNIDADES MUCUBAIS NO NAMIBE RECLAMAM FOME NO MWANGOLÉ FALA VERDADE

12.06.2021

COMUNIDADES MUCUBAIS NO NAMIBE RECLAMAM FOME

Mais de cem autóctones, entre mulheres, crianças, adolescentes e mais velhos “Mucubais” foram sexta-feira, 11 de Junho aos serviços de apoio social do município do Namibe pedir comida e lhes foi negado.

Por: Paulo Fernando

Como se não bastasse, os funcionários ligados a área de assistência social da Administração Municipal do Namibe chamou a policia para escorraçar os autóctones “mucubais”, deixando as vitimas da fome de boquiaberta.
Dois patrulheiros policiais com agentes armados chegaram ao local para o espanto dos famintos que se perguntavam o terão feito para merecer este tratamento belicista. “O que é que se passa senhora”? Perguntou o oficial operativo.
“Ligamos porque estamos com medo de tanta gente que veio a procura de comida e eles são mucubais”, explicou a funcionaria ´sênior da Administração Municipal.

“Minha senhora este assunto é mesmo vosso não é da policia, com licença”, reagiu o oficial da corporação que orientou os agentes sair para outras missões.
Insatisfeitos, os autóctones vieram as instalações do NFV expondo as suas inquietações. A nossa equipa de produção sem preguiça accionou os mecanismos de um “Mwangolê especial” sobre a fome nas comunidades autóctones do Namibe.

“A produção achou por bem não fazer parte deste debate as mulheres por apresentar o rosto descoberto, o que é normal, mas incompreensivelmente poderíamos ter alguns problemas na publicação destas imagens nas redes sociais.
Assim, foi o MWANGOLÉ nesta sexta-feira 11 de Junho de 2021 debatendo a situação da fome no Namibe, particularmente no município do Virei e o município sede de Moçâmedes.

Estiveram presentes neste debate alguns companheiros das comunidades mucubais, de nomes: Segunda Kuatumutue, Chongavo Manuel Candjombe, Muandjelita Cuanohama, Afonso Gangula, Caçador Mucongo, Manuel Candiombe Vilamba e Muantchiunga Tchinete revoltados com a reação da administração de Moçâmedes face a situação da fome local.

Caçador Mucongo: “Nós fomos na acção social porque entendemos que quando há fome devemos ir para lá, eles podem ter comida que pode apoiar o povo, porque a dias nós escutamos que o Presidente mandou 80 toneladas para apoiar os povos que estão a sofrer de fome na província do Namibe principalmente os municípios do Virei, Tombwa e Namibe, alem destas toneladas já chegou outras comidas anteriormente.

                                                (Reportagem da ANGOP)

“Nós  comunidades mucubais e nunca recebemos nenhum apoio que vem do governo central, estamos também nos bairros periféricos  do Namibe, há pessoas que estão a morrer com fome, não temos dinheiro para comprar motobomba e cultivar por isso estamos sentados e  hoje, 11 de Junho, nos dirigimos na acção social da Administração Municipal do Namibe à procura do apoio alimentar porque ouvimos na Televisão e rádio  que o governo  central na pessoa do Presidente da República enviou para o Namibe 80 toneladas para nos apoiar da fome. Fomos lá com os nossos filhos e as nossas mulheres e chegamos lá recebemos grandes bafos dos próprios diretores, funcionários do gabinete da acção social Municipal, na pessoa  da directora Lemba, que nos  disse aqui chegaram toneladas para apoiar a população, isso é mentira do Presidente, vocês têm que voltar nas vossas casas, isso é mentira”, disse Mucongo.

Afonso Gangula: “na verdade nós aqui no Namibe estamos a passar fome, principalmente no bairro 5 de Abril, boa esperança, quase o Namibe todo. Hoje se dirigimos no MINARS, chegamos lá conversamos com a directora, começou a nos dar bafo a dizer que essa informação que vocês receberam que chegou mais de 80 hectares na província é mentira, nós dizemos tudo bem então passaram três minutos eles ligaram para policia disseram que aqui apareceram muitos mucubais, policia chegou bem armados com patrulheiro e começaram a nos ameaçar, nós nos tornamos em inimigos do Namibe? nas fazendas estamos a ser perseguidos pela policia, no MINARS também a policia é funcionário público, ele ganha no estado mas eu também fui combatente, combatemos e hoje não estou a ganhar. ”

Caçador Mucongo, ainda disse: “nós fomos lá com cerca de 37 mulheres com bebés e crianças, porque nós ficamos aqui por muito tempo e como nunca se apercebemos que aqui veio comida nunca fomos lá no MINARS, nós somos mais velhos embora que não estudamos mas temos juízo, os camaradas que hoje são diretores são nossos caçulas, até chegam a ser nossos filhos, nós fomos para lá e quando nos viram já começaram a ligar para a policia, eles quando chegaram perguntaram nos chamaram porquê? eles disseram nós ficamos com medo porque vimos os mucubais vieram muitos. afinal os mucubais aqui na província tornaram-se leões, somo animais e não somos pessoas, quando aparecemos num estabelecimento público de ondem resolvem problemas do povo nós somos vistos como um leão, não servimos como pessoas”.

Afonso Gangula, continuou dizendo: “eu pessoalmente e o caçador íamos na rádio, fomos a primeira vez falamos dialeto e depois em português em português privaram, não saiu.

Comunidades Mucubais em debate no Mwangolê sobre a fome

Chongavo Manuel Candjombe, em língua mucubal disse: “saímos das nossas localidades e fomos até a administração municipal para discutir o problema da fome, ao chegar lá não nos atenderam bem, alem de dizer que a comida ainda não chegou começaram a nos gritar a dizer aqui não tem comida e no mesmo tempo ligaram para policia, nós só vimos a policia já veio armado. Afinal onde é que vamos estar? se no governo ondem vamos discutir os nossos direitos somos expulsos pela policia, afinal qual é o nosso direito? desde muito tempo nós acompanhamos o MPLA e nesse tempo querem nos virar costas, o MPLA quer estar contra os mucubais”.

Muantchiunga Tchinete, em língua mucubal: “cheguei de manhã me dirigi ao MINARS para ir resolver o problema da fome, encontrou os funcionários que começaram a ligar para a policia que vieram armados e a ameaçar os mucubais, nós não fomos armados nem com catana, fomos apenas pedir apoio do governo com alimentos para poder comer, agora não sei porquê que autorizam sempre a policia contra os mucubais.”

Muandjelita Cuanohama, também em língua mucubal frisou dizendo: “Nós fomos para lá através da fome, chegamos lá muito bem com as mulheres e encontramos também lá um grupo dos civilizados que ficam aqui no Namibe todos a discutir o problema da fome, chegamos lá estão a chamar a policia, afinal porquê que chamam a policia sempre que os mucubais aparecem num estabelecimento do estado. Aonde é que vamos mais resolver os nossos problemas?”.

Chongavo Manuel Candjombe, outro que resolveu falar em língua mucubal: “fomos para lá para poderem resolver o problema da fome, mas fomos ameaçados pelos policiais na administração, então é qual partido mais que poderá resolver os nossos problemas? nós ficamos a dizer que somos do MPLA mas o MPLA está a nos xotar, a nos ameaçar com as armas, agora estamos inocentes com a nossa fome e vamos voltar com ela”.

Afonso Ngangula e Caçador Mucongo, activistas

Caçador Mucongo ainda disse: “eu fui tropa, fiquei 16 anos na tropa. quando entrei era miúdo mas cumpri varias missões e já combati em varias províncias até Huambo, no tempo o coronel chamava-se Miranda, o muquipungo. E hoje estou bem abandonado, quando falo com esses rapazes hoje nos respondem parece somos trapos, porque naquele tempo os filhos deles estavam a estudar e nós a combater e agora eles é que estão nos gabinetes e nós somos considerados como burros e o próprio estado nos deixou”.
E por fim disse: “o Namibe é a nossa província, os mucubais não têm mais para onde ir todos os mucubais se encontram na província do Namibe e é por isso que dizem os mucubais são do Namibe.

Afonso Gangula, concluindo disse: “o partido no poder para nós que fomos antigos combatentes não está a resolver nada, esqueceram-se dos primeiros trabalhadores desse país que libertaram Angola. Nós só precisamos que nos apoiem e que essa fome acabe, só queremos que o Presidente da República além de mandar a comida deveria também nos mandar motobombas para podermos cultivar a terra, porque a comida quando vem não chega no interior da província, os próprios Administradores roubam, desviam para troca de animais”, concluiu.
No proximo Mwangolê falaremos das implicações da “Lussatilização em Angola” na vida das comunidades, em que são convidados os juristas José Cavela e Manuel Candolo, ambos Advogados.

 

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