O MPLA COMBATENDO A SI MESMO ATÉ A EXAUSTÃO
Por :Inocêncio António de Brito
Data: 07/11/2021
Quando se trava uma luta contra alguém sem razão, o único lesado neste combate nunca será o suposto adversário.
Muitas vezes as lutas são instintivas e carregadas de uma dose de emoção bastante elevada que cega a racionalidade e que nos permite apenas ver o alcance das nossas acções a curto prazo.
É claro que a forma como o MPLA age durante 45 anos fica difícil compreender porquê que ainda se encontra no poder? Mas apesar de usar os mesmos métodos que podiam facilmente ser dominados e contornados pela maioria da população, conseguiu criar circunstâncias que lhe permitiram sobreviver até hoje.
E se até 2017 foi dado a entender que o culpado era só um, hoje é possível vislumbrar de forma muito clara de que aquela era uma visão míope criada pelo próprio MPLA e disseminada por si dentro da sociedade.
Feliz ou infelizmente hoje não é possível esconder para ninguém de que o problema está no sistema implantado. E até o cidadão menos atento consegue hoje perceber de que o MPLA precisa sair.
As pessoas perceberam efectivamente que as cores da bandeira do MPLA são símbolos de opressão, ditadura e escravidão. As pessoas agem com repulsa ao se depararem perante as mesmas.
Diante dessa situação não há nada que o MPLA possa fazer, se não viabilizar a alternância para que possa sobrevier, rejuvenescer-se e reinventar-se.
É por isso que que, viabilizar uma competição justa com os adversários políticos seria uma saída airosa para próprio MPLA. Seria permitir a si mesmo sair de cabeça erguida, sendo que, é impensável o mesmo ganhar as eleições numa altura como essa em competição livre e justa.
Mas ao criar tentáculos dentro da UNITA para anular a competição política acaba fechando a porta para a esperança de que é possível “experimentar outra coisa”. Assim, o seu único adversário se torna o próprio povo, e ninguém ganha uma luta contra o povo.
É claro que no final acabarão dizendo que a culpa é da própria UNITA que não soube organizar-se e defender-se diante da batalha política.
Mas essa forma de ver as coisas ignora a questão de que a sociedade de hoje não é a mesma, e que não está tão distraída quanto o MPLA espera.
E quando o MPLA pensa que é o único “esperto”, e que a sociedade pode ser manietada o tempo todo, é um indicativo de que se encontra desorientado e bastante atrasado perante as dinâmicas dos novos tempos.
É que, na verdade, o problema reside no facto de que o MPLA nada mais tenha a dar, e daí, ninguém mais estar disposto a suportar mais cinco anos de (des)governação, sem inovação e sem perspectiva, tudo porque essa situação envergonha-nos a todos.
A avaliação negativa no plano externo não afecta apenas o MPLA, mas a todos como “nação” e como país. E isso é suficiente para revoltar qualquer angolano, e não mais querer ver o MPLA no poder.
Internamente, com o agudizar da situação socioeconómica, e ao não se viabilizar a alternância, que possibilite manter alguma esperança, poderá tornar o governo insustentável, fazendo com que haja o agudizar de uma violência generalizada contra quem ostente os símbolos da ditadura e da repressão.
Não é em vão que tem-se notado, um pouco por todo lado, caravanas do MPLA serem apedrejadas pelas populações cansadas do sofrimento, sem no entanto vislumbrar esperança para o futuro. E não espanta que daqui a pouco o MPLA venha reclamar de intolerância política, tal como aconteceu com a UNITA durante muito tempo.
E aí, não restará escolha para o MPLA, se não sair pela porta pequena, sem honra nem glória, porque decidiu combater a si mesmo até a exaustão, pensando que estava lutando contra o adversário.