29 ANOS DEPOIS DAS MATANÇAS DO DIA 5 DE JANEIRO DE 1993 NO NAMIBE COMO VAI A RECONCILIAÇÃO COM OS FAMILIARES DAS VÍTIMAS

15.01.2022
29 ANOS DEPOIS DAS MATANÇAS DO DIA 5 DE JANEIRO DE 1993 NO NAMIBE COMO VAI A RECONCILIAÇÃO COM OS FAMILIARES DAS VÍTIMAS.
Província do Namibe foi palco de um massacre que Mais de 600 pessoas terão morrido em Moçâmedes e Tombwa, na onda de repressão governamental que se seguiu às eleições de 1992.
Por : Fonseca Tchingui
No Namibe, Como vai a reconciliação com os familiares das vítimas das matanças de 5 de Janeiro de 1993, é o que nos conta nos seus depoimentos,Armando José Chicoca, jornalista, que naltura tinha 33 nos de idade, e é um dos sobrevientes ,que sentiu na pele as atrocidades da memorável data que recorda com a nostalgia ao NFV.
NFV: Diga como tudo aconteceu.

Armando José Chicoca, sobrevivente

Armando Chioca: “Sou natural de Galangue. No dia 5 de Janeiro 1993 foi o começo das matanças no Namibe, depois de Joaquim da Silva Matias então governador desta província, ter contactado o seu homólogo da Huíla, naltura Domilde das Chagas Rangel, para que o planeado dia de expulsão da UNITA das cidades do Namibe e Huíla fossse no mesmo dia e na mesma hora. Mas, a conversa entre os dois homólogos foi ouvida por terceiros através da escuta feita na ANGOLATELECOM tendo transpirado à direcção da UNITA, e a reacção não se esperar, o seu Delegado(da UNITA), CarlosAlberto Calita foi ao governo províncial para junto do goernador Joaquim da Silva Matias protestar contra o macabro plano que visava a expulsão da UNITA no Namibe.Segundo esclareceu o entrevistado do Namibe Fala Verdade, para a UNITA, não havia motivos de haver matanças. Por isso é que as escaramuças planeadas para dizimar os Ovimbundos da UNITA e outros que se reviam no partido do Galo Negro, não ocorreram no mesmo dia combinado entre os dois governadores, razão pela qual nesta província só as matanças só aconteceram no dia 3 de Janeiro de 1993”, destacou.

 

NFV:Tem em memória quantos cidadãos foram assassinados nesse dia?
Armando Chicoca: eu vou pôr MPLA em Tribunal os senhores todos para justificar qual é o crime que os angolanos fizeram aqui no Namibe. Só no Tombwa morreram mais de 500 pessoas e dentre essas o mais velho Tchindjamba, ex. delegado de finanças do Tombwa, Verdete, que em algumas vezes substituía o administrador local assassinado, a baionetas,outros enterrados vivos,o mais velho Ngulawa que inclusive era testemunha de Jeová.
NFV: Alguém pode testemunhar isso?
Armando Chicoca: nós temos uma testemunha que inclusive também ajudou a enterrar os outros, o mais velho Cazunza, foi um preso politico.
NFV: O governo prometeu entregar ossadas e urnas para funerais condignos das vitimas dos conflitos armados. Algum comentário?
Armando Chicoa: “fiquei satisfeito quando o Presidente da República disse que vão entregar as urnas, ossadas daqueles que morreram nos excessos, isso é muito positivo, mas ele tem que entregar as ossadas de toda essa gente, no Namibe foram 600 pessoas pelo menos contabilizadas até aqui.
NFV: Há um ano que foi constituída a comissão encarregue de tratar os casos relacionados com os conflitos armados de 1975 a 2000. No Namibe, alguma vez já foi solicitado para prestar algum depoimento sobre o caso?

Armando José Chicoca, sobrevivente

Armando José Chicoca: “O único governador no Namibe que está a pautar pelo diálogo é só o Archer Mangueira, Isaac dos Anjos também foi assim.Se eu for chamado para dar a minha contribuição, estou disponível. A verdade é que o Presidente da República ainda é um daqueles que pensa que Angola é só Luanda, ele falou e estamos a ver os corpos a serem entregues, mas aqui também morreram pessoas, Namibe não é só mar e deserto, também tem pessoas. Namibe não deve se preocupar com os partidos políticos, em primeiro lugar são os cidadãos”, realçou.

 

NFV: tem algumas reservas com os partidos politicos?
Armando Chicoca:”Não tenho nada com os partidos políticos, apenas estou a dizer que devemos respeitar o ser humano, as pessoas que morreram quem as matou foi o MPLA e isso deve ser bem claro e escrito porque eu tenho acompanhado algumas pessoas a dizerem que a UNITA matou e nós já não devemos mais jogar a culpa, e o governo tem que assumir, são mais de 600 pessoas que morreram aqui no Namibe e não houve guerras nem eram pessoas militares, eu pessoalmente se não morri foi graças ao comandante Quim Ribeiro”, afirmou.
NFV: Onde é que se ecnontrava senhor a quando dos acontecimentos de 1993 e como se protegeu?
Armando Chicoca : eu me encontrava aqui no Namibe e os meus irmãos tinham fugido para a Huíla.Disse à eles que eu não iria porque aqui no Namibe é minha terra e nunca fiz mal a ninguém, a única coisa que eu faço é discutir porque havia manias de que quem é de Cabinda é Flec os de Malanje e Cuanza Norte são fraccionistas, os do Huambo são da UNITA e eu sempre perguntava e o de Cunene é o quê? Os do Namibe? Moxico? Por isso é que eu trabalhei na JMPLA durante muitos anos mais nunca cheguei a ser militante do MPLA.
NFV: As pessoas questionam-se se o senhor é ou não militante da UNITA?
Armando Chicoa: eu vos confesso que nunca fui da UNITA, apenas tenho famílias na UNITA e converso com os dirigentes da UNITA, eu e o Presidente Isaías Samacuva somos grandes amigos, o engenheiro Adalberto Costa Júnior é um grande meu amigo, quando eu estive na cadeia ao sair o politico vindo de Luanda para me saudar foi o engenheiro Adalberto Costa Júnior que inclusive deu-me 500 dólares para recompor-me.
NFV: Como conseguiu os bens que tem reclamado?

Armando José Chicoca, sobrevivente

Aramndo Chicoca: Os meus bens comprei-os com o meu suor, eu vendia peixe, fui fazendo poupanças e comprei carros e agora você vai vir me matar porque sou da UNITA, eu vou meter o MPLA no Tribunal, eles vão ter que me apresentar o cartão que comprova que sou da UNITA, eu já apoiei a campanha do MPLA e da UNITA e as pessoas testemunham isso. Os dirigentes do MPLA só sabem mais dividir do que unir e por isso é que eu digo que o esforço que o PR está fazer para o MPLA é muito bom e que os outros depois deiam continuidade porque o MPLA estava constituído por muitos maldosos, aquilo que João Lourenço fez ao chamar as famílias e entregar o corpo do Presidente fundador da UNITA para fazer o funeral, pegar no corpo das pessoas que foram dirigentes da UNITA e entregar para enterrar isso foi um ato muito bom.

 

NFV: Como estão hoje as famílias desses cidadãos mortos nesse dia, será que existe uma organização a cuidar dessas pessoas?
Armando José Chicoca: o MPLA a intenção que tem era de eliminar as etnias influentes no mosaico angolano. veja que na sexta-feira sangrenta atingiram os bacongos porque são altamente inteligentes, houve também o caso dos Ovimbundos que são os mais povoados nesse país, e temem porque eles estão em toda a parte do país, não é possível acabar com todos porque os Ovimbundos vão se multiplicando cada vez mais e foi isso que aconteceu em Angola.
NFV:Qual é o testemunho que quer passar para a nova geração? Está aberto para uma divulgação dos cidadãos mortos ?
AC: Como membro da sociedade civil eu tenho conhecido muita gente, e inclusive vamos criar uma associação dos mártires no Namibe, essa associação eu sei que o governo não vai legalizar, apenas vamos exigir que antes das eleições deste ano 2022 todas as pessoas que morreram e que se encontram nas valas comuns aqui no Namibe, as suas ossadas sejam entregues a suas famílias para que se possa terminar com o óbito e a família poder enterra-los condignamente, e nós vamos exigir porque eu conheço os dirigentes do MPLA, eles pensam que Angola é Lunada.
NFV:Qual é o apelo que deixa à sociedade?
AC: eu quero apenas aconselhar os jovens, porque nós temos visto nos últimos tempos, que um individuo é activista mas não se posiciona como tal, quer se posicionar pela via partidária, e isso é um erro grave. Se querem ajudar a sociedade devem posicionar-se bem e agir como tal. Temos exemplos, William Tonet, padre Pio Wakussanga, Ismael Mateus, entre outros, e, nós temos que buscar um pouco de civismo porque tudo na vida é preciso ter caràcter. O que estou a ver aqui no Namibe è um grupo de indivíduos que arrasta pessoas numa confusão e não se consegue definir quem é o activista e quem não é”, concluiu.

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