O PAPEL DAS AUTORIDADES TRADICIONAIS NO SEIO DAS COMUNIDADES

O papel das autoridades tradicionais no seio das comunidades

Por: Domingos Marques

O papel das autoridades tradicionais no seio das comunidades, foi debatido muito recentemente no espaço Mwangolé do Namibe Fala Verdade, cujos participantes foram o soba grande do Namibe, Baculaco Tunamissa, João Mahamba Seculo municipal, e o mais velho Chindombandua, auxiliar da regedoria, terapeuta tradicional e quimbandeiro.

Baculaco Tunamissa, soba grande do Namibe, o primeiro a tomar a palavra na conversa, conduzida pelo jornalista Armando Chicoca, começou pelas dificuldades pelo que passa um soba na comunidade. Baculaco Tunamissa, disse que ser soba não é tarefa fácil, porque o seu trabalho só é valorizado por quem é dada a razão no fim do julgamento.

“Ser soba não é fácil, tem muitos problemas na comunidade, a pessoa só te dá razão quando lhe dás razão, assim és bom soba, quando perde, o soba não sabe julgar, e por isso mesmo ser soba não é fácil”.

 

No dizer da autoridade tradicional do Namibe, os casos de adultério diminuiram devido ao agravamento da pena, que são trezentos mil Kwanzas, aproximadamente três cabeças de gado bovino.

“As coisas estão caras, você namora com mulher alheia, ele vai te pedir quinhentos mil kwanzas, onde é que irás tirar? Por isso mesmo tinham que reduzir o amor, principalmente os homens. Os do Lubango pedem quinze cabeças, só depois de o infractor pagar a multa, é que leva a mulher na casa dele, dependendo da cultura”, explicou.

 

O soba grande foi mais longe: “Até podes ter filho com uma mulher mas se não deste nada ao pai da mãe, então o filho não é teu, só será considerado seu filho caso deres alguma coisa, ao contrário disso o filho é registado como sendo do sogro, porque a mãe tinha que receber lenço, pano, chapéu e o fato do pai, sem esquecer de entregar dois bois machos e um bezerro para os filhos”, frisou.

 

Baculaco Tunamissa explica ainda que, “em relação ao casamento, os do Virei e Camucuio se casam, mas do 5 de Abril com do Virei não, mutchiela não pode casar com do Virei ou do Camucuio, porque a cultura é diferente, a filha do tio casa-se com o sobrinho por ser da mesma cultura”, concluio.

 

Por seu turno, João Mahamba Seculo municipal, disse que o seu dia-a-dia é resolver os problemas de feitiçaria e adultérios.

“O nosso caso aqui é resolver os problemas de feitiçaria, ókoi, vitele e acusações, esse é o nosso caso de autoridade tradicional. Receber todos os caso que vêm no jango, sempre passa nos meios dos Seculos, como eu João Mahamba Seculo municipal do soba grande do Namibe”, concluio.

 

O terapeuta e quimbandeiro auxiliar da regedoria, mais velho Chindombandua, revelou que desde 1990, há 34 anos que está no mundo do espiritismo e as doenças que cura são incontavéis.

“Eu estou aqui desde 1990, e também sou presidente da comissão dos moradores do bairro 5 de Abril, sector número doze. O trabalho de medicina natural e advinhas é um pouco caro, estamos a fazer todo trabalho que nos compete.

 

Quanto a escolha da parceira, o Seculo municipal do Namibe, João Mahamba, fez saber o seguinte:

“Quando alguém quer mulher, tem que pagar vitele, em língua nacional diz-se yonbindula (vitele), e quando ele quer só namorar então deixa ókoi”, explicou.

 

João Mahamba foi mais longe.

“Quando você namora com a mulher do outro é considerado crime, e punido por abuso de confiança, e a punição resume-se ao pagamento de vitele, dinheiro caso tenha ou boi, se for casado e pagar em dinheiro deve dar boi e cabrito. Caso levares a mulher e não deres nada na família, e alguém namorar com ela, o mesmo não pode dar nada porque você não deixou nada e nem pedio na família para a levar”.