Jovens Académicos no Namibe discordam com a extinção de alguns cursos de Ensino Superior e nas Escolas do Magistério.

03.08.2021

As Makas no ensino Superior em debate no Mwangolé às Quartas-feiras 28 de Julho de 2021.

Jovens Académicos no Namibe discordam com a extinção de alguns cursos de Ensino Superior e nas Escolas do Magistério.

Por: Paulo Fernando

Eduardo Cassanga, Filosofo

O Filosofo Eduardo Cassanga, “é triste que continuarmos a ter um sistema muito centralizado, e nessa centralização estamos a ver que acaba por ser um sistema que não corresponde com os anseios do povo porque Angola é um país com uma dimensão muito extenso com uma população tão diversificada, a questão de Galangue é muito triste com mais de cento e tal populações só tem três agentes Polícia Nacional, inclusive dos três um deles é o Comandante, o quer dizer, em termos de segurança naquela localidade é muito grave. Quando vemos que o Administrador nem tem uma bicicleta para conhecer as localidades, estamos a brincar, temos uma Administração que ainda é muito colonial, está muito atrasada, e dizer que é preciso que o Administrador tenha condições para poder trabalhar com o povo. Porquê que o administrador nem bicicleta tem? É preciso também se perguntar, será que é a gestão, os recursos não têm chegado, essa questão é preciso fazer pressão a quem é de direito, levar essa informação para que o povo não se sinta órfão nem abandonado, porque afinal de contas o gestor é simplesmente um mero gestor, esperamos que isso possa se resolvido com as autarquias que tanto nós esperamos para resolver assimetria que continua a ser o paradigma do nosso país”, disse.

Enoque Livulo, Psicólogo

Para o psicólogo, Enoque Livulo: “é uma situação que de uma forma ou de outra acaba beliscando e humilhando o grupo pertencente aquela instituição territorial, mas a todo cidadão angolano naturalmente, e como se costuma dizer, os problemas do nosso país estão identificados a muito e tem a ver com a ausência de senso de humanismo, o ser humano dentro da sua pirâmide começa sempre com aquilo que são as suas necessidades fisiológicas em que tem que ver elas satisfeitas, que acabam por traduzir-se no próprio bem-estar, a luz e água são elementos fundamentais e de modo sequencial surgirem outros elementos. Nós até poderíamos fazer um ensaio, pegarmos os filhos de quem dirige e colocarmos nessas comunidades, não é preciso ser durante três dias por apenas algumas horas vamos ver que o número de reclamações que irão vir dos seus filhos, poderão escrever livros e enciclopédias de lamentações e se formos para buscar pressupostos bíblicos aqui, vamos pegar aquela velha máxima que diz “não faça aos outros aquilo que não queres que o façam”, se é um mal que estás a proporcionar ao outro que não queres que de alguma forma invada a tua residência, a tua realidade então não crie para os outros, existe muita distração, fraco senso de humanismo e respeito de uma minoria para uma maioria que se chama Angola, e os angolanos de alguma forma ou de outra é intenção de todos procurar reduzir, extinguir todas estas formas de estratificação naquilo que tem que ver com a distribuição de bens e estilo de vida do próprio angolano”, disse.

Manuel Luís, Filósofo

O Filósofo Manuel Luís, “reparem que o ensino superior em Angola deveria ser uma instituição de feitura da ciência acima de tudo, e da democracia em que não poderíamos permitir essa promiscuidade com a politica, eu acho que falta um pouco de comunicação por parte do executivo no sentido de que possamos compreender os reais motivos dessa decisão, eu quero aqui dizer numa análise pessoal, naquilo que tenho constatado, temos défice na produção cientifica a nível das instituições do ensino superior, produzem pouco, e esse pouco que produzem por vezes nem até se calhar chega as pessoas que têm o poder de decisão, talvez eles entendem que já não produzem então tomam decisões que lhes convém, se o decreto esta a se especular a extinção dos cursos de filosofia, pedagogia e psicologia, eu me perguntaria qual é a razão de ser dessa extinção? Se hoje nós entendemos que há uma degradação de valores não há necessidade de apostarmos nas ciências que potencializam a educação para valores, é o próprio executivo que outrora preocupou-se com o resgate dos valores morais e cívicos, mas de que forma vamos educar se as ciências que contribuem fortemente para isso estão a ser eliminadas? Eu entendo que estamos a perder foco, nós hoje temos um problema muito grave no nosso sistema educativo, o nosso sistema educativo é centralizado, talvez Luanda como capital entenda que tem muitos quadros na área da filosofia, pedagogia e psicologia, mas já fizeram uma radiografia a nível das demais províncias? Nós precisamos começar a desconstruir essa ideia de um curriculum centralizado, temos que começar a pensar num curriculum centralizado nas escolas, independentemente de respeitarmos aquilo que são os parâmetros nacionais, as escolas a nível das províncias têm necessidades. Fazer educação é preciso adequar ao contexto onde a escola está inserida, vamos desconstruir a possibilidade que a escola seja uma parede ideológica do Estado, ou seja, não precisamos ter a escola como um potencial instrumento de violação simbólica, é preciso sim ter as escolas como um espaço de continuidade onde o educando sai de uma educação informal e encontra continuidade na escola, isso de certa maneira potencializa a educação para valores”, disse o Académico.

Manuel Cangombe, Comunicólogo

O comunicólogo Manuel Cangombe: “nós estamos num país em que o partido que sustenta o governo tem feito leitura académica e politica, e é preciso que nós entendamos que depois do alcance da paz, em 2002 até hoje 2021 já se foram 19 anos e se formos a fazer uma leitura circunstancial do tempo veremos que os ventos políticos já não soam para o MPLA, com isso eu quero dizer que o MPLA percebeu que no mercado do país, já tem muitos quadros, que foram formados na instituição do ensino superior da educação, estamos a falar do ISCED e outras instituições não vinculadas com o ISCED, mas o objectivo primordial é não termos muitos retóricos, gente pensantes no nosso país, porque as pessoas que estão formadas em áreas sociais têm maior probabilidade de influenciarem a camada juvenil que estão no ensino médio, no primeiro ciclo que ainda andam de certeza muitos distantes da realidade social politica e económica do país. A intenção do governo é de certeza obliterar os quadros do país e quer dar mais ênfase aos cursos práticos, mas nós sabemos que os cursos práticos de um certo ponto também têm as suas valências, porque um país em via de construção normalmente apoia a engenharia em relação a outros cursos, mas os cursos teóricos também são fundamentais para o desenvolvimento intelectual da nossa sociedade”, reagiu.

Por outro lado Eduardo Cassanga, “dizer que os capes dentro das universidades nunca desapareceram, sempre estiveram presentes, mas o quê que acontece, o actual Presidente iludiu-nos a todos, essa justificação do secretário de Estado para o ensino secundário e o secretário do ensino superior trouxeram, não colhe, um país que viveu a colonização durante 500 anos, viveu conflito armado durante 27 anos de repente é um país com uma carga emocional muito pesada, nós temos pessoas que ainda hoje que vivem sobre fantasma da colonização do conflito armado, temos um passivo muito grande a nossa historia politica, esse discurso obviamente requeria uma outra abordagem. Por parte de quem governa falhou a questão do diálogo, nós temos um poder muito vertical e essa verticalidade as vezes complica porque quem está no gabinete não conhece milimetricamente Angola, nem os seus cantos e nem o interior do país, de repente simplesmente sem concertação, por decreto, estamos a ter um país muito complicado. Dizer ainda que as escolas precisam de laboratório isso não é de hoje, eles já tinham noção disso, deveriam seguir um horizonte temporal dizendo que durante esse tempo vamos investir nas escolas que não têm condições, e não extinguir os cursos, está a nos dar claramente que o governo só quer abolir esses cursos”, disse.

Enoque Livulo, disse ainda que: “essas áreas do saber é que permitem olhar o homem como um animal que pensa, emociona-se e tem que decidir, quando se extingue essas cadeiras dos cursos da grelha curricular estamos a esquecer o homem e ai teremos que decidir que tipo de animal queremos: “os passos que o nosso país vai marcando de uma forma ou de outra acabam caindo naquilo que tem a ver com a responsabilização individual de cada cidadão sendo que a massa que tem estado a dirigir este país não é de hoje, é antiga, mudaram a vestimenta, mas o corpo é o mesmo. É fundamental que a nível daquilo que é a massa constituinte deste país, desenvolve o senso critico, naturalmente estamos a falar daquilo que tem que ver com os formados nas áreas das ciências sociais que de maneira fobica o executivo vê-se obrigado a amputar esses cursos a nível daquilo que é o próprio curriculum com uma justificativa puramente contraditória, em contra partida deixa-se cursos sem merecer nenhum, mas dá-se uma sensação de que é a nossa intenção encarar o homem como um animal que produz, não como um animal que pensa, se emociona e tem que ter decisões acertadas por fazer. Fala-se continuamente do resgate dos valores morais, cívicos e culturais, falamos de uma educação deficitária a nível do nosso país, o nosso sistema de educação quase que é inoperante, em contrapartida a gente vai amputando aquilo que podiam ser os catalisadores que permitem olhar ao nosso sistema de ensino e outras perspetivas sociais com outros olhos, essa intenção é nada mais e nada menos fazer com que uma mão deia bofetada ao seu próprio corpo. Eles sabem que a base máxima que é o povo, se ganhar consciência sobre si ele move-se, o povo é o alicerce, se o alicerce dissertar ele anda e se andar a casa cai, é nessa perspetiva em que o MPLA sente-se ameaçado e tem que corrigir aquilo que tem que ver com as tendências de enxergar a lei do obvio, nós não somos maquinas, somos naturalmente humanos e com uma esfera que precisa ser alimentada que é o conhecimento”, disse.

Eduardo Cassanga, Filósofo

Eduardo Cassanga: “temos que despartidarizar o ensino, o maior problema é a despartidarização, porquê que os laboratórios não existem e se existem é só parede, mas não temos maquinas, o nosso maior Coronavírus são os nossos dirigentes e com eles interroguemos o futuro de Angola. A questão dos laboratórios mais uma vez eu digo, o governo combateu os efeitos e não as causas, e dizer que é um autoritarismo o que está nos acontecer, infelizmente é o que estamos a viver. Adotou-se a democracia e não se abraçou os princípios democráticos”, disse.

Manuel Cangombe, “é preciso mudarmos o quadro do paradigma governamental do nosso país, é preciso colocarmos um stop na maneira como o MPLA trata as instituições públicas, da maneira como têm cozinhado as políticas públicas do nosso país, o MPLA é daqueles que opta, decreta leis ou funcionalidades do país quando convém, quando acham que os ventos já não estão ao seu favor então também procuram reverter o mais rápido possível para que a oposição não tenha uma vantagem superior em relação a sua estrutura partidária. Os dirigentes como sabemos são apenas gestores temporários dos recursos do povo, então devem trabalhar cabalmente para resolver os problemas do povo, e quando assim não o fazem devem ser destituídos e quando os dirigentes do ponto de vista governamental não estão a cumprir com as exigências primárias que são essas, garantir um ensino de qualidade, garantir uma assistência médica e medicamentosa, devem ser demitidos, na democracia essa é uma das regras fundamentais e o governo que nós temos não consegue resolver os problemas do povo e perpetua-se no poder”, disse.

Manuel Luís, Filósofo

O Filósofo Manuel Luís: “eu vou fazer o recurso a lei 17/16 de Outubro, lei que rege o sistema educativo no seu artigo nº10, diz o seguinte “o sistema de educação e ensino tem carácter democrático pelo que sem qualquer distinção todos os indivíduos diretamente envolvidos no processo de ensino e aprendizagem na qualidade de agente da educação ou de parceiro, têm o direito de participar na organização e gestão das estruturas, modalidades e instituições da educação nos termos do regulamento para cada sistema de ensino”, quer dizer, o nosso sistema de ensino admite a democraticidade mas não é o que nós vemos, nesta decisão tomada quem foram consultados, os agentes educativos foram consultados? Não, esse é o perigo do sistema centralizado. Indo para o artigo nº63, fala sobre o subsistema do ensino superior, diz assim “preparar quadros com alto nível de formação científica, técnica cultural e humana, em diversas especialidades, correspondentes a todas áreas do conhecimento, de que forma é que nós vamos preparar quadros do ponto de vista cultural e humana se as ciências que se preocupam com os aspetos humano estão a ser tiradas do curriculum. Eu tenho a perceção de que os nossos governantes eles como são tão gananciosos entendem que se apostarmos em formações técnico-profissionais então haverá fomentos de empreendedorismo, eu ainda penso que é uma sensação falsa, na medida em que temos jovens capacitados na área profissionais, mas não têm oportunidades”, disse.

Eduardo Cassanga, “nós em Angola desde que atingimos o multipartidarismo em 1992, o nosso sistema político é um sistema muito atípico, neste atipismo as vezes olhamos para a nossa oposição que muitas das vezes tem sido muito crucificada, não é que a oposição não deva gritar, deve sim, mas quantos deputados tem a nossa oposição, não chega a nossa oposição até pode ir com catanas no parlamento, não fazem nada, não têm expressão. É dizer que a nossa oposição juntamente com a sociedade civil é quem devem fazer pressão a quem governa, agora olharmos para a oposição como salvação não será possível, frisou.

Manuel Cangombe: “a oposição e a sociedade civil há casamento quando necessário, porque a sociedade civil tem um objectivo que é pressionar o governo a fazer bem as coisas, a distribuir equitativamente a riqueza do povo, pressionar o governo a cumprir com o seu papel, e já a oposição tem outro objectivo que é alcançar o poder e governar. Para aquelas sociedades que tem um partido a eternizar-se no poder as duas forças opositoras devem unir-se para fazer pressão ao Estado e para o nosso caso é semelhante, a tarefa de tirarmos o partido que sustenta o governo a mais de 40 anos é da preocupação não só dos partidos políticos como também da sociedade civil, os partidos políticos têm uma ferramenta jurídica que lhes permite fazer politica quando necessário e a sociedade civil tem também uma ferramenta que lhe permite manifestar quando for necessário”, disse.

Manuel Luís: “tanto os partidos políticos e a sociedade civil devem desempenhar um papel importante no sentido de que vão consciencializando as pessoas na necessidade de votarem com consciência, na necessidade de realmente estarem consciente do seu sofrimento para posteriormente tomarem decisões prontas. Relativamente aos partidos na oposição eu entendo que eles devem ser os denunciadores das injustiças, mas também devem ter em conta que não basta ser denunciadores, é preciso apelar ao voto. Eu tenho dois pontos para dizer sobre o caso do Tchilalo, detido no província do Cunene no dia 18 de Janeiro, o primeiro é que a detenção deste cidadão deveria envergonhar o partido no poder, o sistema judiciário, a governadora não tem poder de deter e suponho que a procuradoria fez isso e se fez é uma declaração publica da promiscuidade desses dois poderes, isso não é motivo suficiente para a sua detenção, então já é grave. Segundo, aos partidos políticos na oposição precisam entender que quando mais forem advogados das injustiças melhor terão votos futuramente nas eleições, se há uma injustiça é de bom-tom que os partidos na oposição devem apelar que se reponha a justiça, dai que deve haver um acasalamento entre os partidos políticos na oposição e os activistas quando o assunto é justiça, o bem comum, em vez de divulgarem as injustiças apenas devem apelar e isso vem necessariamente em função daquilo que eles defendem, dos seus programas”, disse.

Enoque Livulo, Psicólogo

Enoque Livulo: “existe de certa forma um acasalamento, porem a base de interesses, vejamos que parte maior da sociedade civil, os indivíduos que integram-se para grupos políticos da oposição a motivação primaria é pós ter algum poder, algum cargo, mas o meu foco quanto a sociedade civil é o tomar a consciência, é fundamental que o cidadão tome consciência, desperta o seu sentido de cidadania a fim de que possa exigir do Estado que lhe dia aquilo que é seu de direito, independentemente da filiação partidária do A ou do B. Quanto as organizações politicas da oposição, o pormenor que eu encaro com olhos de derramar lágrimas tem a ver com o seu sentido de visão, a nossa oposição torna-se cada vez mais frágil, o partido está cada vez mais dividida, temos uma divisão que entre as divisões ela cria mais divisão, vimos isso que aconteceu com a CASA-CE, e outros grupos políticos que vão separando-se de forma espontânea, há uma fome que vai consumindo a razão desses lideres que faz com que por tudo e por nada lutem em busca do poder”, rematou.

A Makas no ensino Superior foi o nosso tema em debate no Mwangolé às Quartas-feiras 28 de Julho de 2021.
Coordenação e apresentação de Armando Chicoca, técnica de Paulo Fernando, Madalena Tchicuendje, Jeovany Campo e Fonseca Tchingui. Apoio NED.

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