Viver do Peixe: O sacrifício das mulheres peixeiras no Namibe

04.12.2020

Na procura de melhores condições de vida para as famílias, muitas são as mulheres que se dedicam à compra, venda e revenda do peixe fresco e seco diariamente nos Portos Pesqueiros da Província do Namibe.

Texto de Da Conceição Maria

Namibe, Província Litoral mais a sul de Angola, tem desde o tempo colonial a pesca marítima como principal actividade. Esta actividade proporciona o sustento de muitas famílias desta terra. Várias são as pessoas que diariamente vendem e revendem o peixe adquirido em chatas – pequenas embarcações artesanais – e barcos no Porto Pesqueiro, dentre elas, crianças, jovens e adultos, maioritariamente mulheres, que com muita coragem enfrentam grandes dificuldades para a aquisição do peixe. 

O Namibe Fala Verdade foi ao encontro das mulheres que fazem desta actividade uma forma de garantia de sobrevivência das suas famílias. Em colaboração com os proprietários das pequenas e grandes embarcações existe um grupo de peixeiras que recebem directamente das embarcações quantidades de peixe para a venda e adquirir o seu lucro por cada caixa vendida.

Delfina Isaura – Foto: NFV

“Sou peixeira há 18 anos. Compro o peixe em barcos e revendo nas senhoras que vendem a retalho. Uma caixa de peixe fresco carapau a 18 mil kwanzas para tirar lucro de mil kwanzas. Sustento os estudos dos meus filhos com este negócio. Nesta época está tudo difícil. Somos obrigadas a estar aqui às quatro ou cinco horas da manhã para conseguir. Esta atividade me obriga a deixar as crianças em casa o dia todo porque se eu não fazer os meus filhos não vão comer. Sou pai e mãe”, contou Delfina Isaura, com muita tristeza.

“Sou proprietária de uma chata. Vendo peixe fresco a grosso. Chego aqui a qualquer hora porque a qualquer momento que o marinheiro ligar tenho que chegar a tempo. Hoje infelizmente só consegui vender duas caixas de peixe anchova, que não é o habitual. A venda tem estado muito fraca desde que se instalou a pandemia da Covid-19”, disse Florinda Tchilombo.

As mulheres que vivem da revenda do peixe proferiram grito de socorro às autoridades governamentais. Em entrevista ao NFV as mulheres explicaram os dramas que passam para conseguir uma caixa de peixe para a revenda.

“Vendo peixe fresco a retalho, mas hoje naõ consegui peixe porque os barcos estão a pescar pouco nestes últimos dias. Neste momento pedimos que os governantes olhem pela nossa classe. Precisamos de apoio. O comércio do peixe não pode morrer”, disse Domingas Regina.

Somos muito maltratadas pelas autoridades do Namibe que fiscalizam as vendas do peixe na Província. Eles correm connosco quase todos os dias.

Leonora Romana, outra vendedora, disse: “Compro caixas de peixe fresco para revender a retalho aqui no Porto Pesqueiro. Chego aqui às quatro horas para conseguir o negócio. Neste momento só consegui uma bacia de peixe anchova que estou a revender 750 kwanzas por cada peixe. Não é suficiente, mas dificuldades me obrigam a suportar esta realidade. O governo deve olhar para nós, peixeiras”.

Maria Joaquim – Foto: NFV

Maria Joaquim, peixeira há 28 anos, falou do impasse que tem encontrado para conseguir vender o seu peixe e acusou: “Somos muito maltratadas pelas autoridades do Namibe que fiscalizam as vendas do peixe na Província. Eles correm connosco quase todos os dias. Temos encontrado muitas dificuldades, estamos a sofrer muito com isso. A venda do peixe não pode ser limitada porque o peixe quando não é vendido no mesmo dia perde o seu valor. Aqui tem mulheres viúvas, mulheres sem maridos que se sacrificam para conseguir dar sustento aos seus filhos”.

Domingas Luzia é vendedora ambulante de peixe. “Neste momento estou a preparar o peixe para ir zungar de casa em casa na cidade. Comprei a caixa de peixe por 14 mil kwanzas para revender a três peixes por 500 kwanzas e só regresso à casa quando terminar, no final do dia”, contou.

O NFV contactou um grupo de mulheres que fazem a transformação do peixe fresco em seco nas suas residências. Inácia Ngunga, uma destas mulheres, disse: “Agora estou a retirar o sal do peixe que foi colocado há três dias para ser estendido e se tornar peixe seco. Normalmente conseguimos comprar 30 a 40 caixas de peixe por dia nas embarcações. Compramos quase todo tipo de peixe, carapau, sardinha e cavala, e temos ja as nossas clientes que revendem nas províncias da Huíla, Bié e nos países vizinhos”.

Dona Tina, uma das várias mulheres que fazem o processo de higienização, salga e secagem no peixe, disse que “estamos a secar o peixe por cima da rede, tapamos dois de cada e aguardamos um dia para estarem secos”. Maria João, outra colega, lamentou: “Vendo peixe seco cavala e carapau fino e grosso a retalho, mas em tempo de pandemia não tem sido fácil depender desta actividade. Por dia só consigo menos de cinco mil kwanzas e eu vivo de cada dia.

Este tem sido o dia-a-dia dessas mulheres peixeiras que com muito sacrifício vão à luta para conseguir o pão para o sustento das suas famílias.

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