Perseguição aos activistas por realizarem manifestações contra o governo de Angola

31.12.2020

Jovens activistas no Namibe dizem que continuam a ser perseguidos pela polícia e pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC) após a manifestação contra o governo de João Lourenço, ocorrida no passado dia 11 de Novembro de 2020.

Por: Da Conceição Maria

O activismo é um exercício de cidadania que visa  promover a liberdade de expressão, exigir o respeito e o cumprimento  dos  direitos humanos em uma determinada  sociedade. Neste contexto, o espaço  “Mwangolé Fala Verdade”, que visa a promoção da liberdade de expressão em Angola, realizou mais um debate onde os convidados foram os activistas cívicos Geraldo Bunga, Faustino Manuel, Nelson João Simão e Pedro Lourena.

Pedro Lorena disse que após as manifestações passadas, incluíndo a “vigília em memória ao herói da juventude”, o malogrado jovem estudante Inocêncio de Matos e “contra a má governação angolana”, as suas vidas nunca mais foram as mesmas. “Eu e os meus colegas temos sido alvos de muitas perseguições”, lamentou.

Segundo Faustino Manuel, “a província do Namibe não está boa”. Deixou claro que “não concordamos com a exploração do petróleo na bacia do Namibe”, pois “a província do Zaire e Cabinda hoje não têm nada, todo petróleo sai de lá e não sabemos onde vai”. Lamenta que “as cidades são pobres, não têm estradas, temos a situação da fome, principalmente nos municípios do Virei e Camucuio”. E pergunta: “Será que é crime reivindicar essas situações por intermédio das manifestações?”

Durante o debate os jovens activistas explicaram que a manifestação do dia 11 de Novembro, que vitimou o activista  Inocêncio de Matos, em Luanda, foi o suficiente para que as suas vidas como activistas não fossem mais as mesmas.

“Pretendíamos realizar uma vigília em memória do malogrado Inocêncio de Matos, no largo Espírito Santos. Estávamos reunidos, cumprimos com a regra de distanciamento social de um metro, mesmo assim a polícia cercaram o largo e nos expulsaram. Se não fôssemos ágeis, seríamos detidos. Nos perseguem em todo o lugar. Estamos preocupados com o bem estar da nossa população. Há municípios em que os cidadãos comem capim (ervas daninhas). Isso nos deixa feridos”, explicou Geraldo Bunga.

“Nos reunimos outra vez para manifestar no passado dia 12 de Dezembro, quando chegamos no local da reunião encontramos um homem do SINSE disfarçado que com o olhar atento dos companheiros acabamos por descobrir em pequenos detalhes que não era um dos nossos. Minutos depois apareceu o comandante Santinho, que passava com um carro da investigação nos seguindo em todo o lado em que íamos. Para nosso espanto, fomos aguardados no dia seguinte porque sabiam da tentativa dos documentos que pretendíamos encaminhar ao Governo Provincial do Namibe para realização de mais uma manifestação ainda neste ano. Fomos surpreendidos com intenções de manobras por parte das secretárias que de forma repentina nos encaminharam ao gabinete do governador, onde pediram documentos que não estão previstos por lei para a realização de um acto de manifestação. Juntaram-se e fizeram teatro alegando que faltamos ao respeito, daí vimos a movimentação dos carros da polícia com mais de vinte homens armados que, com muita sorte, conseguimos desviá-los”, acrescentou Geraldo.

Os convidados falaram também sobre qual é a vontade da juventude namibense. Pedro Lourena adiantou que “nós, jovens do Namibe, queremos autarquias já, a descentralização no país vai potenciar autonomia para o desenvolvimento da nossa Província. Queremos ter o poder de eleger quem vai governar os recursos explorados na nossa cidade. Não queremos mais governantes que vêm de Luanda indicado pelo MPLA que já nos governa e coloniza o povo angolano há 45 anos.

“Durante uma semana tentamos agilizar a documentação para realizar mais uma manifestação no Namibe. Fomos perseguidos e observados claramente, não é dedução ou intuição, nós vemos e vivemos. Tem aparecido carros com policiais armados para fazer jogo de intimidação. Por mais que venham dizer que não é verdade, sabe-se que é mesmo verdade. Nunca vamos desistir, vamos sair às ruas dentro dos próximos dias, eles querendo ou não. Há muita gente que não está contente com governação de muita corrupção, miséria e problemas sociais graves”, desabafou sem tabu Nelson Simão.

Os activistas defensores dos direitos humanos no Namibe esclareceram que a luta é em benefício de todos os angolanos. “Não trabalhamos a favor de interesse de nenhum partido político e estamos dispostos a defender a população fragilizada em todas as circunstâncias”, reforçaram.

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