Namibe: O nosso povo, a nossa tradição e as nossas culturas em debate no Mwangolé Fala Verdade

28.03.2021

Comunidades mucubais e mucorocas no Namibe preocupados com a falta de preservação e expansão da cultura nos dias de hoje.

Por: Da Conceição Maria

Face a esta realidade o espaço Mwangolé Fala Verdade debateu sobre “o nosso povo, a nossa tradição e as nossas cultura ” com os convidados especiais,os mucubais Katuyão Mukwantunto, Mwatchyssamo e os mucorocas José Seculo e Katatanya.

” Eu pertenço a primeira família encontrada em Moçâmedes pelo colono Mombelo pai do Tchindukuto que vivia no actual tribunal provincial do Namibe, encontrado pelo Português Torres, tio do Radix Jínior,proprietário do marcado Municipal do Namibe e dono das casas do largo do Espírito Santo foi enterrado no primeiro cemitério da Província no campo da facada, onde se encontram a descansar outros meus familiares que hoje estão a fazer obras do ministério do Interior ” explicou Katuyão Mukwantunto, ancião de 75 anos na sua introdução.
“A nossa cultura e tradição é vasta mesmo, o feitiço existe, na minha família receber feitiço é uma identidade, o Tchindukuto recebeu feitiço de seu pai que lhe tornou muito forte” explicou.

José Seculo em representação do povo mucoroca começou dizendo:
“Falar deste povo, importa referir a figura de Chimuco, capataz de escravatura, que foi tirado todos bois pelos colonos, é denominado como um homem corajoso e morreu com 200 anos. A questão do feitiço era usado para defender o povo em caso de invasão do colonialistas portugueses nas localidades do Coroca e isso fez com que os mucorocas são denominados como povo teimoso e terrível”.
“Katuyão Mukwantunto, o povo mucubal não se deixou colonizar porque quando o Português tentava, todos fugiam nas montanhas e até hoje fizemos questão de preservar a nossa cultura, desde o modo de vida e forma de vestir. O mucubal gosta mesmo de viver nas matas porque o banco dele é o gado e na cidade não terão como praticar a sua principal actividade”.

 

Na cultura mucubal não é permitido casamentos de pessoas com culturais diferentes para não desvirtuar uma cultura da outra.
“O mucubal preserva a cultura de criação de gados, por isso o homem mucubal deve casar comente com uma mulher mucubal e o homem deve retribuir com gado aos pais da mulher em forma de reconhecimento da educação atribuída por ela” explicou Katuyão Mukwantunto.

 

” A nossa cultura também admite que em caso de traição por parte da mulher e resultar em filho, o esposo deve assumir a responsabilidade da criança porque ele é considerado o primeiro pai, por firmar laços familiar primeiro com a mulher” acrescentou.

 

Na culturo mucoroca a realidade é quase a mesma.
” Em caso de traição da mulher, ela não é penalizada e o esposo tem a obrigação de assumir o filho da traição porque este homem que se relacionou com a esposa paga uma multa ao traído e este não pode sair pelas ruas lamentar porque se não a criança morre e automaticamente acaba por ser responsabilizado por tudo” esclareceu José Seculo .

 

José Seculo admitiu que nos dias de hoje as tradições dos povos tem sofrido muitas transformações como é o caso do início das actividades sexuais.
” As coisas agora ganharam outro rumo, anteriormente uma mulher era autorizada a ter relações sexuais depois de passar pelo efiko nas idades compreendidas de 12 á 15 anos, atualmente as meninas das comunidades primeiro engravidam-se do depois fazem o efiko para cumprir o ritual da cultura” lamentou.
O ancião Katuyão Mukwantunto diz que continua preservar a sua cultura e ensinamentos que recebeu dos seu antepassados com actividade de cura que leva a cabo por muitos anos.

 

” Sou curandeiro há 50 anos e faço quase todo tipo de tratamento desde a infertilidade, impotência sexual, doenças de demónios, só não consigo tratar a doença de gota, mas não aceito alguém que venha me pedir para matar outra pessoa por feitiço porque eu não sou feiticeiro e apenas recebi os ensinamentos para ajudar as pessoas doentes” disse.

 

Mwatchyssamo outro mucubal convidado afirma que a globalização tem influenciado nas alterações de muitas culturas e tradições, por isso faz questão de convencer a sociedade que é necessário manter a identidade cultural dos povos.
“Tenho um cordão no pescoço porque existe pessoas maldosas que podem mandar maus espíritos no corpo e uso por questão de educação, hábitos e costumes” disse.
” Katatanya mucoroca, antigo combatente, eu andei na tropa por muitos anos e graças a tradição nunca apanhei nenhuma bala na guerra e continuo a confiar o ritual que existe na minha cultura” disse o convidado.

 

José Seculo acredita que a tradição e tratamento tradicional salvou a sua vida por ter sofrido acusações de bruxaria e foi submetido ao tratamento com três curandeiros da sua região para não perder a vida.

 

” O mal existe por isso as pessoas devem buscar sempre tratamentos tradicionais a base de paus ou ervas para poder se curar como eu fiz. Há ainda pessoas que têm dúvida da questão do feitiço e uma coisa é verdade e não tenham dúvida, o feitiço existe mesmo”.

 

Katuyão Mukwantunto no seu último minuto disse que os melhores kimbandeiros que tratam questão de feitiço estão na província do Huambo na Ombala Mbalundo e recomenda para questão de tratamento de mina tradicional “tala” o local certo para ser curado é no Mbalundo.

 

 

 

 

 

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