27 DE MAIO DE 1977 Causas e consequências

31.05.2021

*27 DE MAIO DE 1977 * Causas e consequências

Por: Hitler Samussuku

Hoje tive o prazer de estar no Município de Viana, Estalagem próximo da Mamã Gorda à convite do Projecto Literacia na Banda com propósito de falar sobre as causas e as consequências dos acontecimentos do 27 de Maio.

Na minha intervenção apresentei uma resenha histórica sobre a fundação do MPLA, destaquei as diversas correntes ideológicas no seio do partido (Lenistas, Maoístas, Comitê Amílcar Cabral , Comitês Hoji Ya Henda ) até a questão do 25 de Abril e a crise de 1974 , a questão da Revolta Activa e da Frente Leste. Depois procurei contextualizar a necessidade de converter o MPLA movimento em MPLA partido em 1977, mas antes destaquei a questão do Poder Popular e dos Centros de Instrução Revolucionária. Disse-lhes que as motivações do Nito Alves e dos seus companheiros residia nas questões de corrupção, injustiças políticas e sociais, oportunismo político, sobretudo por parte daqueles na era colonial ocupavam cargos de relevância e passaram a desempenhar o mesmo papel no pós independência ( entre esses destacam-se membros da PIDE-DGS que passaram para a DISA).

Aferi que Nito Alves descendente dos Dembos e Nambuangongo, filho de pobres camponeses conseguiu atingir lugar de relevância no aparelho do Estado e isto fê-lo intermediário entre a bases e o topo. Porém, das reuniões dos bairros surgiam indignações à respeito da suposta geração da utopia que não sentia o preço da liberdade ( independência), esses por sua vez procuraram por intermédio de uma manifestação chamar atenção do camarada Presidente Agostinho Neto que para eles estava distante das bases. Antes disso, foram expulsos do comitê central do partido e elaborou, Nito Alves, 13 Teses em sua defesa na qual defendia que só teríamos uma verdadeira independência em Angola se Brancos, negros e mulatos fossem vistos a varrerem às ruas de Luanda em simultâneo.

Apesar de ter amigos chamados de fraccionistas brancos como a Sita Valles, Nito Alves foi pelos seus detratores rotulado de racista e para agravar a situação foi informado que alguns comandantes do MPLA tinham sido encontrados mortos no Sambizanga. Como consequência, detenções arbitrárias e execuções sumárias foram levadas a cabo pelo aparelho repressivo do Estado sob pretexto de que um grupo no seio do partido MPLA tentou golpear o Agostinho Neto que Nito Alves salvou em 1974 quando Daniel Chipenda estava prestes a vencer as eleições internas. Estes acontecimentos geraram um clima de medo social , desencorajou atitudes de dissidências no MPLA, instalou uma cultura de conformismo , gerou dependência total ao Estado e promoveu ausência de iniciativa na sociedade.

Outrossim, do ponto de vista do Sistema Político de Governo , os acontecimentos do 27 de Maio determinaram a afirmação de um sistema monolítico na qual o Presidente aparece no topo da pirâmide administrativa e no lugar dos tribunais havia um Conselho da Revolução e no lugar do Parlamento foi improvisado uma Assembleia do Povo, mas a dinâmica Política gravitava em volta do Comitê Central e do Bureau Político do MPLA. Já do ponto de vista do Regime Político, os acontecimentos do 27 de Maio ditaram a forma do Estado lidar com a sociedade e vice-versa. Uma ditadura clara com uma economia planificada, ausência de associações e iniciativa privadas. Tudo isso continua a repercutir nos nossos dias, o seja, o medo continua a ser omnipresente, letargia no exercício da cidadania etc. Em gesto de conclusão, disse-lhes que Agostinho Neto em 1978 num discurso em Cabinda falou dos acontecimentos, demonstrou sentido de arrependimento até certo ponto e seguiu o enquadramento de alguns chamados nitistas no aparelho do Estado.

Outrossim, neste contexto, Neto procurou encontrar-se com Jonas Savimbi em Dakar com vista a discutir questões de reconciliação nacional, mas infelizmente foi em 1979 para a União Soviética e voltou num caixão. Já o José Eduardo dos Santos foi a pessoa a quem cabia apresentar resultados do inquérito sobre o que realmente aconteceu em 1977, mas até hoje nunca apresentou e João Lourenço procurou fazer um aproveitamento político pedindo perdão 44 anos depois às famílias e aos amigos, mas pecou quando afirmou que os mesmos pretendiam dar golpe de Estado .

A questão que não se pode calar é : se fosse na vez do João Lourenço alguém tentar lhe dar golpe de Estado o que faria ? Para mim, Nito Alves e outros tentavam apenas reivindicar os seus direitos, mas infelizmente foram mal percebidos porque era a base a tentar inverter a pirâmide. Disse ainda que o pedido de perdão de João Lourenço faria sentido se fosse genuíno e feito pelo menos no Nambuangongo, nos Dembos,no Sambizanga , Cazenga ou então no Moxico, sobretudo, em Kalunda onde era o campo de extermínio. Para terminar, citei alguns livros que lí ao longo dos tempos onde fui colhendo informações relativas ao caso 27 de Maio de 1977.

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