Bié: Registo Eleitoral Oficioso exclui muitos cidadãos em idade eleitoral

19.06.2022

Muitos cidadãos na Província no Bié ficaram de fora do processo eleitoral em Agosto próximo.

Por :Alfredo  Seyungo

FOTO DE ARQUIVO (NFV) NOS BUAPS

Muitos cidadãos em idade eleitoral na província do Bié, no centro de Angola, foram excluídos do Registo Eleitoral Oficioso. O processo que antecede as eleições a serem convocadas nos próximos dias para o mês de Agosto pelo Chefe de Estado, João Manuel Gonçalves Lourenço, conforme determina a Constituição angolana, começou a 23 de Setembro de 2021 e terminou a 7 de Abril de 2022, após o fim dos sete dias de prorrogação concedidos pelo titular do Executivo depois da exigência dos partidos políticos na oposição e diversas organizações da sociedade civil.

A pouco menos de três meses para a realização das quintas eleições da jovem democracia angolana, no país o debate sobre a lisura do processo eleitoral continua aceso. Sociedade civil e oposição, que desde o início apelaram ao governo a extensão para as zonas suburbanas e rurais e a descentralização dos serviços dos Balcões Únicos de Atendimento ao Público (BUAP), agora denunciam irregularidades e exigem a publicação das listas de cidadãos maiores de 18 anos de idade com o registo feito e atualizado. Entretanto, o governo nega-se a fazê-lo.

Este ano a festa da democracia em Angola deixa de fora muitos cidadãos em idade eleitoral no Bié que estão sem o registo eleitoral efetuado e atualizado. É o caso de José Graça Kawango, de 32 anos de idade, vendedor de saldo residente no bairro Ndongua, arredores da cidade do Cuíto, que ficou sem o registo eleitoral atualizado por falta de tempo em consequência das longas filas nos BUAP. O vendedor dedica todo o seu tempo na venda de saldo para garantir o sustento à sua família e achou incorreto abandonar o trabalho para atualizar o registo. Mas o jovem diz que seria diferente se os serviços fossem disponibilizados nas escolas, bairros e igrejas, como aconteceu nos anos anteriores.

“Falando a verdade eu não atualizei o meu registo eleitoral, porque o meu tempo não favorecia e tinha muito fluxo de pessoas nos balcões de atendimento ao público. Nos anos anteriores coisa era diferente, foi nas escolas, nas igrejas e noutros lugares onde as pessoas atualizavam o registo”, disse. Este ano houve pouca aderência abandonar o meu trabalho uma vez que em casa a família precisa de alguma coisa não deu certo”, lamentou.

Na mesma situação está a jovem Dionísia Chitula, de 25 anos de idade, que ficou sem o registo atualizado por causa da distância que separa a localidade em que vive com a administração municipal do Cuíto. Dionísia vive no bairro Ndongua, cerca de 7 Km da administração, onde funciona o único BUAP da comuna sede do Cuíto e carecia de dinheiro para pagar o transporte para fazer o trajeto e, na falta de dinheiro, admite que foi tomada pela preguiça e se privou de caminhar para o efeito.

“Não efetuei o registo eleitoral porque tive mesmo preguiça de andar e também foi muito difícil ter dinheiro para apanhar táxi ir atualizar o cartão do registo eleitoral porque vivo muito distante”, justificou a jovem.

Cecília Augusta Joaquim, vendedora ambulante de 24 anos de idade, também está sem o registo eleitoral atualizado. Questionada, a jovem justificou que ficou durante um ano no município de Camacupa, na aldeia de Tchápua, que continua sem os serviços do BUAP.

“Já votei várias vezes, ainda não atualizei o meu registo eleitoral porque tinha sai do fui ao Município do Camacupa, é no Kimbo não tinha posto de atualização”, sustentou.

Outra vendedora ambulante, Rosí, de 22 anos de idade, sentiu-se excluída do registo eleitoral por falta de conhecimento. A jovem, que dedica seu tempo na zunga, viu suas filhas doentes no início do ano e desconhecia o início e fim do prazo.

“Não fiz o registo porque não tive tempo as minhas filhas estavam doente. Eu não sabia deste processo desde que começou”, afirmou.

Com 39 anos de idade, Abel Sapalo, que se expressou na língua local, umbundu, diz que já exerceu o direito ao voto em três pleitos, mas este ano decidiu ficar fora porque, segundo este cidadão, o voto do povo em Angola não define quem governa.

“Meu nome é Abel, tenho 39 anos de idade e já votei por três vezes, mas este ano não atualizei o registo eleitoral porque mesmo atualizando o líder que queremos escolher não será eleito. Penso mesmo que o voto do povo não define quem governa”, frisou o motoqueiro. Na paragem em que trabalha, no bairro Azul I, na Estrada Nacional 250, no Cuíto, estavam outros dois motoqueiros que se negaram a prestar declarações à nossa reportagem, mas afirmaram que todos os seus colegas de profissão nesta parada partilham a opinião de Abel Sapalo e por isso não atualizaram o registo eleitoral.

Em todo país continuam desconhecidos os dados oficiais do registo eleitoral. O governo apenas publicou os dados provisórios, segundo os quais, estão registados cerca de 14 milhões de eleitores. Esse dado corresponde à soma do número de cidadãos que realizaram o registo eleitoral oficioso e os dados que já existiam no ficheiro central e juntos perfazem o Ficheiro Informático dos Cidadãos Maiores. Dados provisórios da província do Bié, fornecidos ao NF, pelo diretor do gabinete provincial dos Registos e Modernização Administrativa, Baptista Albino Canõlossi, indicam que foram registados 477 mil e 467 cidadãos que foram aos BUAPS.

“Esse é o número bruto daqueles que apareceram no BUAP. Tanto pode ele acrescer em função daqueles que não foram aos BUAP, como pode baixar depois da subtração dos óbitos declarados”, esclareceu Baptista Albino Canõlossi, que avançou que os dados oficiais serão publicados depois da convocação das eleições. De acordo com o governante, neste momento estão a trabalhar na depuração dos dados para somar os números de cidadãos que foram aos BUAP e aqueles que fizeram o registo eleitoral presencial, bem como a identificação dos óbitos.

A província do Bié, com uma área geográfica de 70.314 Km2, tem uma população de aproximadamente dois milhões de habitantes, tem nove municípios, 30 comunas e beneficiou de 39 BUAP, instalados em todas as administrações municipais e comunais.

Edição e narração de Alfredo Seyungo, repórter Comunitário do projeto Namibe Fala Verdade, a partir da cidade do Cuíto, Província do Bié, numa coordenação de Armando Chicoca, diretor geral do projeto NFV, financiamento da NED e Open Society, a verdade doí mas liberta estamos juntos.

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