Sacerdote católico escreve para Ministra da Saúde Sílvia Lutucuta

Hoje é o dia de meditação, reflexão e balanço a todos os títulos, para facilitar a cada angolano, amanhã eleger os seus representantes legais.

Por: Jacinto Wakussanga.

Devia ser igualmente, hora privilegiada de repouso noturno para acordarmos revigorados e prontos para caminharmos para as urnas. Infelizmente, eu não consegui e não consigo repousar. Quando eram precisamente 23H29, bateram à minha janela, na minha residência paroquial de pau-a-pique, populares aflitos que traziam uma enferma às costas, a fim.de que eu lhes desse boleia para uma unidade hospitalar de alguma qualidade. Foi Consensual decidir que a doente fosse evacuada para o Centro de Saúde Municipal.da Kahama/Kunene. Fizemo-nos. À estrada. Acabámos de chegar. Enquanto a nossa doente está sendo tratada na Sala de Urgências, aproveitei o ensejo para lhe traçar estas linhas e lembrar-lhe algumas coisas.

Esta comunidade do Tyihepepe e bairros vizinhos não tem acompanhamento médico-medicamento adequado. Existe um Posto de Saúde na sede do sector da Kaila que tem de atender toda a gente, mas com enorme insuficiência de fármacos. E, quando chega a época chuvosa, o rio Caculuvar, também conhecido por rio do Lubango, que passa por nós, arrasta consigo todo o lixo possível e imaginário de todo o Lubango (desconfio que algum lixo hospitalar acaba também por apanhar a boleia). Os populares consomem as águas arrastadas do Lubango com toda a pitada de ingredientes impróprios para consumo humano.

 

Nessas ocasiões, dificilmente pregamos o olho, por causa de todas as reacções do consumo dessas águas, com os elevados casos de malária, febre tifóide e outras tantas infecções resultantes desse quadro insalubre. Sabendo que nossos populares não têm ainda acesso a programas de educação para a saúde preventiva, e tendo esta área toda somente um ADECO, e tendo vivido na Europa onde beneficiei de serviços ligados ao médico de família, por este motivo que acompanhei o Sr. Arcebispo, em Julho de 2018, a fim de solicitarmos de V. Excia, um Centro de Saúde da Missão, onde, para além do atendimento hospitalar, tínhamos pensado, com apoio da Dra. Carlota Tati de Cabinda, idealizar um programa de atendimento às comunidades ao nosso alcance, a partir da prática em vigor no Sistema de Saúde da República da Uganda, onde médica, mencionada supra, fez sua formação profissional. Depois da audiência com v. Excia, aguardamos pelo lançamento da primeira pedra, nada. Enviámos, inclusive, um grupo de jovens que está a fazer a sua formação em saúde, no Colégio Pitágoras, beneficiando de bolsas de estudo, em vista ao solicitado e prometido Centro de Saúde. Contactos foram feitos com Diocese da Europa que estavam dispostas a enviar-nos quadros voluntários para apoiar o Centro. Eu pessoalmente fui contactando o vosso gabinete, mas debalde.

No ano passado, a malnutrição atingiu níveis alarmantes nessa região toda devido à fome. Só na Missão tivemos 138 crianças, além de idosos e mulheres grávidas. Por que razão nosso projeta não foi atendido? Não cremos nunca na falta de recursos, pois foram construídas unidades de saúde de referência.

Ou será pelo facto de alguns de vossos colegas governantes me apelidarão de Kwatcha, a partir dos meus posicionamentos na defesa dos direitos básicos das comunidades?

Com um Centro de Saúde de qualidade e um programa de saúde preventiva, tal não iria ajudar, de forma extremamente qualitativa a ação do governo? Não seriam salvas mais vidas? Não seria o país a ganhar, ao contrário dos meus detratores que julgam que tal beneficiaria o ego do Padre Pio Wacussanga?

Estou a pensar nas perdas originadas pelo vosso silêncio e o que vamos perder mais ainda, caso o vosso silêncio continue?

Só penso na dor e luto da minha comunidade e com ansiedade a ver o que o futuro nos reserva, caso o silêncio se mantiver.

Vossa Excia ao votar, pense em nós. Eu ao votar, farei o mesmo. Bem-haja!